Para quem aprecia uma boa cachaça, há sempre um motivo para tomar um gole: abrir o apetite, comemorar, lamentar, se aquecer ou até se refrescar. Em Salesópolis, na Grande São Paulo, essa cultura vai muito além. Os alambiques são mais do que uma herança de família; são um legado que passa de geração em geração e um sonho que se mantém vivo ao longo dos anos. Neste sábado (13), é celebrado o Dia Nacional da Cachaça, e a cidade ganha ainda mais relevância no mapa da bebida artesanal.
A produção de cachaça em Salesópolis
Em uma cidade onde “quase todo mundo se conhece” e os maiores eventos são as festas de igrejas e comunidades, a quantidade de cachaça produzida impressiona: são, ao menos, quatro alambiques, segundo os dados da prefeitura, que, juntos, produzem mais de 10 mil litros da bebida por mês. Apesar de estar na Região Metropolitana de São Paulo e ficar apenas a 100 quilômetros da capital paulista, Salesópolis — onde está a nascente do Rio Tietê — mantém características de uma cidade do interior. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tinha 15.202 habitantes em 2022, e a estimativa é que este ano chegue a 15.381 moradores.
Com tanta produção, os tipos de cachaças e licores podem variar, assim como os processos entre os alambiques. Entretanto, todos eles compartilham a paixão pelo que fazem e têm o mesmo objetivo: entregar o melhor produto final possível. Essa qualidade é monitorada cuidadosamente, e muitos alambiqueiros tomam, pelo menos, uma dose por dia para “experimentar” ou “abrir o apetite”. A cachaça vai muito além das doses; ela é o ingrediente principal da caipirinha, drink típico do Brasil, e pode ser utilizada de diversas formas na culinária.
Mulheres na produção de cachaça
Um dos destaques da produção em Salesópolis é Jamilly Miranda Zirr, que mantém viva a tradição do Alambique Canabella. Junto com seu marido, Paulo César Caetano, ela dá continuidade ao sonho de seu pai, Willy Zirr, falecido há três anos. “Estamos levando adiante o sonho dele, e isso vale muito a pena”, diz Jamilly. O alambique possui alambiques de cobre e realiza a destilação duas vezes, garantindo a pureza e a qualidade da cachaça.
Um dos diferenciais da Canabella é a técnica de bidestilação, que elimina as partes nocivas da cachaça, proporcionando uma bebida de qualidade superior. “Quem bebe não tem os malefícios da ressaca, não tem dor de cabeça, nem boca seca”, explica Jamilly. Atualmente, a Canabella já exportou mais de 6 mil garrafas para o exterior, incluindo países como África do Sul, Holanda e Bélgica, onde conquistou prêmios internacionais.
Legado familiar e tradição artesanal
O Alambique Toninho Freire, comandado por Antônio Freire de Almeida, 77 anos, possui uma longa história de produção artesanal. “Aprendi a fazer cachaça com meu pai e, para nós, a qualidade da bebida é inigualável. Fazemos tudo com amor e respeitando a tradição”, conta Toninho. A produção diária é de cerca de 70 litros, e a esposa Lúcia Maria de Miranda cuida dos processos diários no alambique, garantindo que cada garrafa seja um reflexo de seu trabalho dedicado.
João de Miranda, por sua vez, mantém o Alambique JM, que também é uma tradição familiar, iniciado por seu pai. “O alambique é familiar e toda a família se envolve no processo, seja na produção ou na divulgação da marca”, relata João. A dedicação de toda a família é um forte apoio na manutenção do negócio, que ainda produz uma variedade de cachaças e licores.
O Alambique Alvarenga e a continuidade da tradição
Fundado em 1914, o Alambique Alvarenga é um dos mais antigos da região, e Joaquim Antônio Alvarenga, 72 anos, ainda mantém as tradições de produção. “Desde criança aprendi a fazer cachaça e, mesmo com as mudanças ao longo dos anos, mantemos o processo artesanal”, afirma Joaquim. Com uma produção que chega a 400 litros por dia durante a safra, a alambique preserva métodos tradicionais, como o uso de rótulos colados com farinha e água.
Como é feita a cachaça
O processo de fabricação da cachaça em Salesópolis segue etapas tradicionais. A extração do caldo, a fermentação, a destilação e, por fim, o repouso/maturação, são etapas fundamentais que garantem que a bebida artesanal tenha a qualidade desejada. “É um trabalho árduo, mas feito com muito carinho e técnica”, conclui Joaquim.
Assim, Salesópolis se firma como um verdadeiro polo da cachaça artesanal, unindo tradição, qualidade e a paixão de quem faz. Neste Dia Nacional da Cachaça, a cidade celebra não apenas a bebida, mas uma rica cultura que está viva nas mãos de seus produtores e na história de suas famílias.