A tragédia envolvendo a estudante trans Carmen de Oliveira Alves, de 26 anos, é um triste lembrete da violência que muitas mulheres enfrentam diariamente. No último sábado, dia 26, o desaparecimento de Carmen completou três meses, e novas revelações sobre a situação que a jovem vivenciava emergiram. A polícia está tratando o caso como um possível feminicídio, mas o corpo de Carmen ainda não foi encontrado. Os principais suspeitos, seu namorado, Marcos Yuri Amorim, e o policial militar da reserva, Roberto Carlos de Oliveira, estão presos.
Ameaças reveladoras
A equipe do g1, juntamente com a TV TEM, teve acesso a áudios enviados por Carmen a uma amiga, no qual ela detalha as ameaças que recebeu do namorado. Os áudios foram enviados em março, meses antes do seu desaparecimento, e revelam um cenário de tensão e medo. Em um dos áudios, Carmen afirmou: “Acho que ele pode fazer isso tá? Ele tem arma, tem as coisas, falou que vai me matar e me jogar no rio, que ninguém vai nem achar.”
Essas mensagens foram trazidas à tona por uma amiga de Carmen durante um depoimento policial, somente quatro dias após seu desaparecimento. Nas gravações, Carmen expressa sua preocupação de maneira clara e angustiante: “Se eu sumir, se acontecer alguma coisa comigo, sabe que foi esse f**** e coloca ele na cadeia, pelo amor de Deus.” A gravidade das mensagens revela a relação abusiva que Carmen vivia e a urgência de sua situação.
O contexto do desaparecimento
Carmen desapareceu após deixar a faculdade em Ilha Solteira, SP, onde cursava Zootecnia. Na noite anterior ao seu sumiço, ela saiu de casa com uma bicicleta elétrica, a qual também está desaparecida. A família e amigos estão angustiados pela falta de notícias e têm participado ativamente das buscas, que incluem vasculhar rios e áreas de mata onde a jovem poderia ter sido vista pela última vez.
O delegado Miguel Rocha revelou que a investigação identificou várias motivações subjacentes ao possível crime. Constata-se que Carmen estava pressionando seu namorado a assumir publicamente o relacionamento, enquanto também havia descoberto práticas criminosas cometidas por ele, levando-a a criar um dossiê com evidências, que foi posteriormente deletado.
Um triângulo amoroso complicado
Além de Marcos, o policial Roberto Carlos, que está preso junto dele, foi apontado como um possível cúmplice. Segundo a polícia, eles mantinham uma relação que, segundo o irmão de Carmen, Lucas de Oliveira Alves, se configura como um triângulo amoroso complicado. As investigações indicam que Roberto pode ter ajudado Marcos no crime, considerando os desdobramentos das reconstituições feitas pela polícia, que já aconteceram em locais que podem ter sido cenários do crime.
Repercussão e homenagens
A família de Carmen, incluindo seu irmão Lucas, tem se mobilizado para manter a memória da jovem viva enquanto esperam por notícias concretas. A comunidade local demonstrou seu apoio em uma vigília realizada em frente à delegacia, onde familiares e amigos acenderam velas e prestaram homenagens. Lucas comentou: “A Carmen sempre foi uma alma artística, uma alma viva”, e expressou sua intenção de preservar os textos que ela escreveu, potencialmente desenvolvendo uma exposição em sua homenagem.
As manifestações de apoio e as recentes descobertas no caso de Carmen de Oliveira Alves ressaltam a importância de se falar sobre violência contra a mulher e a necessidade de intervenções mais efetivas para proteger as vítimas de relacionamentos abusivos. O desfecho desse caso trágico pode servir tanto para buscar justice quanto para conscientizar a sociedade sobre os perigos do silêncio diante de situações de ameaça e violência.
A continuidade da investigação é vital, e ter a voz de Carmen, mesmo após seu desaparecimento, deve servir como um chamado à ação para todos que desejam um mundo mais seguro para todas as mulheres.