O Cais do Valongo, situado na zona portuária do Rio de Janeiro, se destacou recentemente ao receber o reconhecimento de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Este local, que serviu como principal porto de entrada de negros escravizados na América Latina, foi redescoberto em 2011 durante as escavações das obras do projeto Porto Maravilha. Com essa nova designação, o sítio arqueológico aguarda um novo capítulo em sua história e na preservação da memória afro-brasileira.
Reconhecimento histórico e cultural
A recente publicação da Lei nº 15.203, no dia 11 de setembro, oficializou o Cais do Valongo como patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro. Esta medida reconhece a importância do local não apenas como um ponto turístico, mas também como um símbolo da luta e resistência da população afrodescendente no Brasil. A lei estabelece diretrizes para proteção e preservação do local, enfatizando o respeito às manifestações culturais e aos objetos que são parte integrante dessa herança.
História do Cais do Valongo
Construído em 1811, o Cais do Valongo foi um dos principais pontos de entrada de cerca de 1 milhão de africanos escravizados que desembarcaram no Brasil. Este marco histórico foi aterrado em 1911 e permaneceu oculto até ser redescoberto um século depois, durante as preparações para as Olimpíadas de 2016. A área onde se encontra é considerada um dos locais mais significativos da memória da diáspora africana fora do continente africano, portanto, essencial para a compreensão das histórias e sofrimentos dessa população.
Importância para a identidade nacional
O reconhecimento do Cais do Valongo pela Unesco reafirma o seu papel como um importante patrimônio cultural, que ajuda na formação da identidade nacional brasileira. O local não é apenas um marco histórico, mas também um testemunho das lutas e contribuições dos afrodescendentes para a sociedade brasileira. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) considera o Cais uma memória viva, que possui um valor extraordinário para a humanidade.
Objetos e símbolos guardados
As escavações realizadas no Cais do Valongo revelaram milhares de artefatos, entre eles calçados, botões feitos de ossos, colares, anéis e outros itens de uso cotidiano e rituais religiosos. Esses objetos contam a história de sofrimento, resistência e sobrevivência de gerações, além de serem símbolos da cultura afro-brasileira que precisa ser preservada e respeitada.
A valorização internacional
O Cais do Valongo já era reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco desde 2018, tendo sido incluído na lista por atender ao critério VI do Guia para a Implementação da Convenção do Patrimônio Mundial. Este critério ressalta a ligação do local a tradições vivas, eventos significativos e expressões culturais de valor universal excepcional. Para a Unesco, o sítio arqueológico do Cais do Valongo abriga memórias fundamentais que refletem aspectos de dor e sobrevivência, destacando a importância da história e cultura afrodescendente na formação das sociedades do continente americano.
Perspectivas futuras
Com a nova designação, espera-se que o Cais do Valongo receba mais atenção e recursos para sua preservação, além de promover uma maior valorização da cultura afro-brasileira e da educação sobre a diáspora africana. O reconhecimento pela Unesco é um passo significativo, mas agora é necessário garantir que este patrimônio seja mantido e respeitado, promovendo atividades que ajudem a educar as futuras gerações e a celebrar a riquíssima contribuição da cultura afrodescendente para o Brasil e o mundo.
Essa conquista é uma vitória para a memória coletiva e um lembrete da importância de honrar a história de todos os que passaram pelo Cais do Valongo e deixaram suas marcas na cultura brasileira.