O quarto dia de julgamento da trama golpista na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ficará marcado por um evento inusitado: o longo voto do ministro Luiz Fux, que durou mais de 13 horas e acabou surpreendendo seus colegas de corte. O ambiente da sessão também foi recheado de interações inusitadas entre os ministros e diversos momentos que chamaram a atenção, incluindo visitas e até tietagem.
O voto extenso e seus desdobramentos
O início da sessão foi marcado pelo voto do ministro Fux, que surpreendeu a todos ao retirar um volumoso documento de um envelope. Iniciado logo após as 9h, o voto de Fux rapidamente se estendeu e a previsão inicial era que a sessão se encerrasse ao meio-dia. No entanto, o complexo pronunciamento do ministro fez com que esse planejamento fosse revisto, e a reunião da turmas foi suspensa em três ocasiões, totalizando horas de deliberações interrompidas.
Durante uma dessas paradas, a turbulência do julgamento mostrou a todos que o ambiente não seria de tranquilidade. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e o vice, Edson Fachin, visitaram os ministros para oferecer apoio em meio ao tenso clima do julgamento. Fux, no entanto, optou por retornar rapidamente ao seu gabinete, deixando os colegas em uma busca por leveza na descontração.
Interações e descontrações nos intervalos
Ao longo de um dia repleto de discursos sérios e deliberações, os intervalos serviram como uma válvula de escape para os ministros. O clima de tensão varreu a sala, mas também surgiram momentos curiosos. O ministro Alexandre de Moraes e a ministra Cármen Lúcia foram flagrados trocando cochichos durante uma pausa, um indício de que a rotina estava longe de ser apenas formal. À medida que Fux discorria sobre questões pertinentes ao julgamento envolvendo urnas eletrônicas, eles continuaram a se comunicar discretamente, até mesmo trocando bilhetes.
Além desses momentos, um episódio divertido ocorreu quando o advogado do general Augusto Heleno, Matheus Milanez, foi visto tietando o deputado federal Lindbergh Farias, do PT. A abordagem apresentava um contraste interessante com a seriedade do dia, mostrando que até em meio ao drama judicial, momentos de humanidade e conexão podem ocorrer.
A curiosa dinâmica entre os ministros
À medida que a tardinha avançava, outros instantes descontraídos também marcaram o evento. Por volta das 20h30, o ex-ministro Flávio Dino foi ao plenário cumprimentar Cézar Bitencourt, advogado de Mauro Cid, a quem chamou de “mestre”. Brincadeiras sobre a forma física de Bitencourt tornaram o cenário ainda mais leve, mesmo em meio a uma votação tão formal.
Os cansaços, no entanto, já começavam a se mostrar. Os magistrados foram servidos com inúmeras doses de café e água para manterem a concentração diante do discurso monótono e prolongado de Fux, que já estava se insinuando como um dos mais longos da história do STF. O recorde anterior pertencia ao ministro aposentado Celso de Mello, que em 2019 produziu um voto histórico de seis horas e meia – mas ao longo de dois dias separados.
Expectativas e contextos futuros
A expectativa em relação ao desfecho desse julgamento cresce a cada nova sessão. A importância das discussões no Supremo Tribunal Federal, especialmente em tempos de instabilidade política, alimenta debates acalorados na sociedade civil e no núcleo político do Brasil. A atuação de cada ministro, assim como o clima de camaradagem e as interações informais, podem influenciar a percepção pública sobre a justiça e seus protagonistas.
Os próximos dias são cruciais. O desenrolar do julgamento poderá marcar não apenas o destino dos réus como também a imagem da própria instituição. Enfrentando um dilema entre formalidade e aproximação humana, o STF navega por águas turbulentas onde cada palavra proferida tem o poder de ecoar profundamente na história e na política do Brasil.