Os preços dos alimentos no Brasil continuam em trajetória de queda, acumulando a terceira redução consecutiva nos últimos três meses, segundo dados do IBGE divulgados nesta semana. Entre junho e agosto, a inflação de alimentos recuou 0,91%, cenário atípico e sinal de uma conjuntura favorável ao consumidor.
Produção agrícola e fatores que impulsionam a queda
Especialistas explicam que essa tendência de queda de preços não é comum, dada a volatilidade dos custos de produção e fatores climáticos. A melhora na oferta de alimentos, após meses de escassez que elevaram os preços em 2024, tem efeito direto na redução dos valores, além da queda nos preços das commodities agrícolas e da valorização do real frente ao dólar.
Segundo Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, a ausência de fenômenos climáticos extremos como El Niño ou La Niña em 2025 favorece o bom desempenho das lavouras. “Tivemos uma alta forte na virada de 2024 para 2025 que agora se reverte, e uma safra muito boa neste ano,” explicou. Os custos menores de produção contribuem para a tendência de preços mais baixos.
Impacto na inflação e na vida do consumidor
O impacto dessas condições é refletido na inflação de alimentos, que deve fechar o ano em torno de 5%, abaixo da média histórica de 7,5% deste século. A conta da conta de supermercado também tem sentido os efeitos positivos: alimentos como tomate, cebola, batata e mamão tiveram quedas que variam de 8% a 14%, devido ao aumento da oferta e à sazonalidade.
Gonçalves, analista do IBGE, destaca que a maior oferta de produtos, aliada ao “tarifaço” de tarifas comerciais anunciado pelos EUA em julho, influenciou a redução dos preços de frutas como manga e uva. “O impacto dessas tarifas trouxe uma expectativa de menor cotação no mercado internacional, que também se reflete aqui,” afirmou.
Mercado do café e cenário de preços
O café, que chegou a registrar a maior alta em uma década, mostra sinais de alívio. Após uma valorização de 82% em 12 meses, o preço do grão vem caindo por dois meses consecutivos. A oferta melhorada e o fim da colheita favorecem essa tendência, e especialistas estimam que o valor deve seguir reduzindo até setembro em torno de 1%, com uma possível alta de 0,5% em outubro.
Perspectivas para frutas, legumes e mercado de carnes
Realizações sazonais, como maior oferta de frutas e legumes, explicam a recente redução de preços de itens como tomate, cebola e batata. Além disso, a influência do “tarifaço” de Donald Trump, que elevou tarifas de importação, pode ter contribuído para a depreciação de alguns produtos, como manga e uva.
As carnes, que tiveram alta expressiva no final de 2024, devem apresentar estabilização ou queda nos próximos meses, embora a normalização dos preços só deva ocorrer em 2026, devido ao baixo estoque de rebanho. Nesse cenário, a expectativa é de que a inflação de alimentos continue controlada, mas com um potencial aumento no quarto trimestre por fatores sazonais.
Previsões econômicas e inflação futura
Economistas projetam que a inflação de alimentos seguirá tranquila até o final de 2025, com deflação prevista para setembro, mas a tendência é de retomada de alta após esse período. Segundo Leal, o café deve “comer” a deflação até o fim do ano, com possíveis ajustes de preços a partir de outubro, acompanhando o padrão sazonário.
O cenário indica que, apesar do momento de alívio, os preços dos alimentos podem voltar a subir no último trimestre, pressionados pela demanda familiar e questões sazonais tradicionais nesta época do ano. Fonte: O Globo