O Palácio do Planalto tem adotado uma abordagem cautelosa em relação às críticas de Luiz Inácio Lula da Silva ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. A medida se tornou evidente após a participação do governador em um ato em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro, realizado na Avenida Paulista no último domingo. Esse distanciamento tem sido uma estratégia deliberada, delegando a responsabilidade das críticas a ministros e ao próprio Partido dos Trabalhadores (PT).
Estratégia de moderação
Uma ala do governo considera que as críticas devem ser dosadas, a fim de não projetar Tarcísio em uma esfera nacional. Funcionários próximos a Lula argumentam que não seria adequado que o presidente da República atacasse diretamente um governador. No entanto, Lula reconheceu em uma reunião ministerial que Tarcísio poderá ser um de seus adversários nas eleições de 2026.
A postura de Tarcísio
Recentes declarações de Tarcísio, ao se referir ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como “tirano”, levantaram polêmica e críticas. Para os assessores de Lula, a participação de Tarcísio no evento em apoio a Bolsonaro não deve ser comentada pelo presidente, deixando a criticas por conta de ministros que têm liberdade para se manifestar individualmente.
Críticas de Rui Costa
Na segunda-feira, o ministro Rui Costa foi um dos que se manifestou publicamente contra a postura de Tarcísio. Rui o chamou de “desequilibrado” e expressou sua surpresa ao ver a bandeira dos Estados Unidos utilizada em uma manifestação celebrando a independência do Brasil. “O que nós vimos ontem, me desculpe, é uma pessoa desequilibrada, atacando ministros da Suprema Corte e as instituições do país”, disse Rui em entrevista à GloboNews.
Reações de Gleisi Hoffmann
Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, também criticou Tarcísio, afirmando que sua participação em um ato ao lado de figuras que defendem Donald Trump demonstra uma defesa dos “traidores” da pátria. Ela afirmou ainda que Tarcísio precisa compreender o verdadeiro significado de “tirania”, que, segundo ela, é o que as ações do ex-presidente Bolsonaro buscavam impor ao país.
Intensificação das críticas do PT
O PT planeja intensificar suas críticas ao governador paulista nos próximos dias. O partido preparará inserções publicitárias em São Paulo, traçando um contraste entre as políticas do governo Lula e a postura de Tarcísio, associando-o ao “tarifaço” americano e a um apoio a elites milionárias. As comunicações do PT enfatizarão as realizações do governo em várias áreas, com São Paulo sendo a única exceção, onde o foco será o embate com o governador.
A envolvêcia do Palácio do Planalto na gestão desse conflito reflete uma estratégia prudente, que busca evitar a popularização do adversário em nível nacional, ao mesmo tempo que articula críticas através de canais indiretos. Esta dinâmica política, se bem manejada, poderá favorecer a manutenção da imagem de Lula e de seu governo em um cenário eleitoral desafiador que se aproxima.
Em suma, enquanto o governo Lula e seus aliados navegarem por águas turbulentas, o foco permanecerá em um embate político que promete esquentar nos próximos meses, especialmente com as eleições de 2026 no horizonte. A cautela em não dar visibilidade exagerada a Tarcísio se mostrará um teste significativo para as manobras políticas do PT e de Lula em seu terceiro mandato.



