Brasília – A proposta do governo federal de reduzir os impostos de importação para alimentos essenciais gerou forte repercussão no cenário político e econômico brasileiro, colocando governo e agronegócio em rota de colisão. As tensões crescentes entre o setor produtivo e o Palácio do Planalto devem aumentar nos próximos dias.
De um lado, o governo argumenta que a medida visa enfrentar o aumento do custo de vida e garantir alimentos acessíveis à população. De outro, representantes da bancada ruralista denunciam a iniciativa como uma ameaça ao setor e um movimento político com vistas às eleições de 2026.
A “gritaria” e as acusações políticas
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, criticou publicamente a postura de líderes do agronegócio, classificando suas reações como uma “gritaria” motivada por interesses políticos e eleitorais. Em uma publicação nas redes sociais, Gleisi acusou a bancada agropecuarista de espalhar “mentiras” sobre as intenções do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a medida.
“O presidente mandou avaliar medidas, que nem foram anunciadas ainda, para garantir comida na mesa do povo”, escreveu Gleisi. A petista também rebateu as críticas ao lembrar que o governo Lula financiou o agronegócio com o maior Plano Safra da história do país em 2024.
“Só mesmo a motivação política e eleitoreira pode explicar a gritaria contra um governo que financiou o setor”, completou, em referência ao apoio governamental ao segmento.
O que está em jogo?
O debate gira em torno da possibilidade de reduzir a alíquota de importação para produtos que, no mercado interno, estão com preços superiores aos valores internacionais. A medida, segundo o ministro da Casa Civil, Rui Costa, seria uma forma de corrigir distorções de preço e “forçar o mercado nacional a se alinhar aos valores praticados internacionalmente”.
“Se os preços desses produtos no mercado internacional estiverem mais baixos do que no mercado nacional, isso será rapidamente analisado e a alíquota de importação será reduzida”, afirmou Costa em declaração à imprensa.
Porém, o agronegócio vê na proposta uma ameaça direta. Pedro Lupion, deputado federal e líder da bancada ruralista, não poupou críticas, classificando a ideia como “mais uma medida desesperada e mal pensada do governo”. Em entrevista, Lupion apontou uma série de preocupações que, segundo ele, estão sendo ignoradas pelo Planalto, como segurança jurídica, acesso ao crédito e o impacto no direito de propriedade.
“O setor está meio que caminhando sozinho”, disse Lupion,
Está evidente o sentimento de desconfiança do agronegócio em relação às políticas do governo Lula.
Contradições do debate
Enquanto o governo argumenta que a medida pode beneficiar a população com a redução do preço dos alimentos, especialistas alertam para as possíveis consequências negativas no setor agropecuário. A abertura para importação com alíquotas reduzidas pode gerar uma pressão nos preços internos, mas também pode enfraquecer a competitividade dos produtores brasileiros no mercado nacional.
Além disso, a proposta expõe um paradoxo: enquanto o governo busca medidas para aliviar a inflação alimentar, financia com volumes históricos o setor que, na visão da oposição, não estaria entregando resultados alinhados com as demandas sociais. Essa contradição tem sido um ponto de ataque por parte da bancada ruralista.
Governo está de olho na safra de votos das eleições 2026
O pano de fundo do embate entre o governo e o agronegócio é, sem dúvida, a disputa política de 2026. Gleisi Hoffmann foi explícita ao afirmar que as críticas do setor são uma antecipação da campanha eleitoral. Já o deputado Pedro Lupion apontou um clima de desconfiança crescente no setor produtivo em relação às intenções do governo Lula.
Essa antecipação do cenário eleitoral pode radicalizar ainda mais as posições de ambos os lados, dificultando o diálogo e a busca por soluções que equilibrem o interesse público e a sustentabilidade econômica do agronegócio, um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira.
O embate entre o Planalto e o agronegócio é mais um exemplo do ambiente de tensão política que toma conta do país.