Pelo menos 19 pessoas morreram em protestos na capital Kathmandu e outras cidades do Nepal, após uma onda de manifestações contra o fechamento de redes sociais e denúncias de corrupção. As manifestações, lideradas por jovens identificados como a geração “Gen Z,” foram as maiores da história recente do país.
Protestos violentos e repressão policial
Os protestos eclodiram após o governo nepalês impor um veto a plataformas como Facebook, WhatsApp e Instagram na última semana. Os manifestantes invadiram o Parlamento em Kathmandu, e a polícia respondeu com gás lacrimogêneo, balas de borracha, jatos d’água e, segundo a organização de direitos humanos Amnistia Internacional, uso de munição de fogo real.
Segundo um porta-voz da polícia, 17 das mortes ocorreram em Kathmandu, enquanto duas pessoas faleceram na cidade de Itahari, no sudeste do país. Milhares de civis ficaram feridos, e muitos foram encaminhados a hospitais ao redor do Nepal.
Impacto político e medidas do governo
Na sequência da violência, o ministro do Interior do Nepal renunciou, e o governo revogou o veto às redes sociais logo no dia seguinte. Uma comissão de investigação foi criada para apurar os fatos no capital.
O primeiro-ministro KP Sharma Oli afirmou que a violência foi alimentada por “infiltrações” e afirmou que buscava proteger instituições constitucionais de atos de vandalismo. Autoridades locais impuseram toque de recolher em Kathmandu e outras cidades para conter a crise.
Contexto social e o papel das redes sociais no Nepal
A utilização de redes sociais no Nepal é bastante ampla: dados da consultoria digital Kepios indicam que havia 14,3 milhões de perfis ativos no início de 2025, o que corresponde a quase metade da população total do país.
Na última semana, o governo tentou regular plataformas como Facebook e Instagram, após a Suprema Corte do Nepal ordenar que todas as redes sociais fossem registradas no Ministério da Comunicação e Tecnologia da Informação, para facilitar o monitoramento de conteúdos considerados “indesejáveis”.
De acordo com o decreto judicial, plataformas que não regularizassem sua situação seriam desativadas no país. Algumas empresas, como TikTok e Viber, atenderam ao pedido, mas outras, incluindo Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp), optaram por ignorar a ordem até o prazo final. Como consequência, o governo baniu 26 plataformas de redes sociais no Nepal, agravando a crise social no país.
Reações e desdobramentos
O veto às redes sociais e a repressão violenta provocaram forte reação nacional e internacional. Especialistas criticam o uso excessivo da força e alertam para o risco de maiores instabilidades políticas, especialmente entre a juventude, que utiliza intensamente as plataformas digitais para mobilização social.
Autoridades locais continuam adotando medidas severas, enquanto a sociedade civil exige uma investigação transparente sobre as mortes e ações que garantam os direitos civis e a liberdade de expressão em Nepal.