A escalada do discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), durante a manifestação bolsonarista no último domingo, gerou indignação e surpresa entre integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao chamar o ministro Alexandre de Moraes de “tirano”, Tarcísio agiu “fora do tom institucional” e comprometeu a relação que vinha construindo com a cúpula do Judiciário nos últimos anos.
Tarcísio e o STF: uma relação conturbada
Na Avenida Paulista, em São Paulo, Tarcísio afirmou que “ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Alexandre de Moraes”. A declaração ocorre em um momento crucial, logo após o governador ter iniciado negociações em Brasília para destravar no Congresso o projeto da oposição que busca anistiar Jair Bolsonaro. Essa manobra não é apenas um gesto político, mas uma estratégia para obter apoio do ex-presidente em sua futura candidatura ao Planalto nas eleições de 2026.
A vida política de Tarcísio em 1 ano de manifestações
- 7/9/24: No ato do ano passado, Tarcísio destaca que a manifestação é pela “liberdade” e pela “anistia aos apenados de forma desproporcional”.
- 16/3/25: Em Copacabana, defende a anistia para “aqueles que nada fizeram” e exalta Bolsonaro nas urnas em 2026.
- 6/4/25: Na Avenida Paulista, lidera um coro de “anistia já” e critica a condução da economia sob Lula.
- 29/6/25: Evita críticas diretas ao STF, mas expressa descontentamento com o PT.
- 29/8/25: Às vésperas do julgamento de Bolsonaro, diz que um indulto seria seu “primeiro ato” como presidente.
- Domingo: Defende novamente a anistia e critica diretamente o ministro Moraes.
A situação foi observada com desdém por membros da Suprema Corte, que consideraram as investidas de Tarcísio em favor de Bolsonaro como uma tentativa de “jogo de cena”. Contudo, o ataque ao ministro Moraes mudou a percepção. Um dos ministros do STF ficou surpreso com a postura do governador, que não esperava ver um personagem chave do governo paulista mergulhar na retórica bolsonarista radical.
Um novo caminho para Tarcísio?
Historicamente, o governador já propôs a anistia a réus do 8 de Janeiro e a Bolsonaro, evitando, no entanto, militar contra o STF. Sua estratégia sempre foi manter uma proximidade com os bolsonaristas, mas sem se comprometer totalmente. Às vésperas do julgamento crucial, no entanto, Tarcísio começou a evidenciar uma alteração em sua postura política, indicando uma certa inclinação em garantir a anistia em possíveis futuros atos de governo.
Agora, em resposta ao aumento da retórica de Tarcísio e seus aliados, Moraes brevemente respondeu, afirmando que “a impunidade, a omissão e a covardia não são opções para a pacificação”, em clara alusão ao ex-presidente e seus apoiadores. Esta reação é um reflexo da tensão crescente entre o Executivo estadual e o Judiciário, uma união que se mantinha razoavelmente conciliatória até então.
A pontuação de Tarcísio na política
Nos últimos anos, o governador paulista desempenhou o papel de mediador entre bolsonaristas e o STF. Ele organizou jantares e encontros com membros da Corte e já defendeu a nomeação de Cristiano Zanin ao STF. Contudo, sua crescente retórica belicosa surpreendeu até mesmo aqueles que o viam como um bolsonarista moderado. Esse comportamento frustrava seus apoiadores e causava desconforto nas articulações políticas que anteriormente estabelecia com Moraes e outros membros do Judiciário.
Agora, a cena política em São Paulo e em Brasília parece estar em ebulição. A estratégia de Tarcísio, que poderia garantir a ele apoio eleitoral para 2026, também coloca em risco suas alianças anteriormente cultivadas. O desenrolar desta situação exigirá cuidado e habilidade, tanto do governador quanto de seus opositores, para evitar um colapso nas relações entre os poderes.
Em meio a críticas e reações, a forma como Tarcísio navegará neste mar de desafios políticos será determinante para o seu futuro a curto e médio prazo na política brasileira.