Na sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS realizada nesta segunda-feira, o clima esquentou entre os membros do colegiado enquanto o ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), prestava depoimento. O debate foi marcado por trocas acaloradas e desentendimentos, refletindo a tensão política que permeia a investigação sobre fraudes no sistema previdenciário.
Exposição de Conflitos durante o Depoimento
Durante a oitiva, o deputado Marcel Van Hattem (NOVO-RS) fez questionamentos sobre as nomeações na pasta e a cronologia das fraudes associadas ao INSS. Lupi optou por não responder ao parlamentar, provocando uma reação imediata que levou a divergências sobre a conduta na CPI. O presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-RS), teve que intervir para apaziguar os ânimos, lembrando aos colegas que todos estavam ali para cumprir o seu papel investigativo.
A troca de farpas foi intensa entre os deputados. Carlos Viana afirmou enfaticamente: “O senhor não é presidente dessa CPI e não manda aqui”. Essa afirmação gerou um bate-boca entre Rogério Carvalho (PT-MG) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que teve de ser contido por outros deputados. Em um momento tenso, Carvalho levantou-se e dirigiu-se a Sóstenes, que estava visivelmente alterado, sugerindo que a sua agitação estava relacionada ao julgamento do ex-presidente Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) programado para esta terça-feira.
Insinuações sobre o Julgamento de Bolsonaro
As provocações seguiram, com Carvalho insinuando que Sóstenes estava “alterado” pela iminente situação eleitoral do ex-presidente. “Se controla que Bolsonaro vai ser preso na sexta, se acalma. Você foi vaiado em Minas Gerais”, repetia Carvalho, amplificando o frenesi na sala.
Sóstenes, reclamando da falta de respeito nos debates, acabou se envolvendo em mais um contencioso. Os ânimos acirrados resultaram em uma breve pausa na sessão, para que Lupi pudesse coordernar a fala de sua defesa e retomar o depoimento dez minutos depois.
A Resposta do Ex-Ministro e os Desdobramentos da CPI
Em seu depoimento, Carlos Lupi destacou que seu ministério já acompanhava possíveis irregularidades relacionadas aos descontos em aposentadorias e pensões desde 2023. De acordo com o ex-ministro, as denúncias que chegavam à pasta acenderam um alerta que, segundo ele, não foi ignorado. No entanto, Lupi revelou que só compreendeu a verdadeira dimensão do problema após o avanço das investigações da Polícia Federal.
Como foi apontado, Lupi é um dos principais alvos da CPI em razão de sua gestão no Ministério da Previdência durante os anos críticos de 2023 e 2024, quando as fraudes nos descontos associativos dispararam. “A gente, infelizmente, não tem o poder da adivinhação. Nunca tivemos capacidade de dimensionar o tamanho ou o volume do que esses criminosos fizeram no INSS”, declarou ao ser questionado pelo relator da CPI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), sobre quando tomou ciência do esquema fraudulento.
Temores dentro do Governo
O depoimento de Lupi é visto com apreensão por integrantes do governo, especialmente considerando que o ex-ministro se recusou a participar de um treinamento preparatório para a sessão. Segundo fontes próximas a Lupi, ele demonstrou estar tranquilo em relação à sua participação, embora o seu comportamento espontâneo possa ser uma incógnita para os demais membros do governo, que já se preparam para lidar com o avanço das investigações.
Esse episódio na CPI do INSS não apenas expôs as tensões internas entre os deputados, mas também ressaltou a seriedade das investigações que estão em curso, trazendo à tona questionamentos sobre a ética e a transparência na gestão pública. A continuidade dos trabalhos e os desdobramentos dessa comissão serão acompanhados de perto, tanto pela mídia quanto pela população.