A rápida evolução da inteligência artificial (IA) generativa está mudando o cenário do setor de tecnologia, afetando especialmente os próprios profissionais de TI. Ferramentas capazes de escrever códigos, corrigir erros e sugerir melhorias começam a substituir tarefas antes executadas por programadores iniciantes.
O impacto da IA na carreira de profissionais de tecnologia
Nos Estados Unidos e na Europa, grandes empresas de tecnologia já estão reduzindo vagas para compensar os altos investimentos em IA. Em contrapartida, no Brasil, o setor de tecnologia continua em alta, com previsão da Brasscom de criar cerca de 88 mil empregos formais até o fim do ano. O desafio, agora, é que habilidades essenciais estão mudando devido à influência da IA, exigindo profissionais mais criativos e com capacidade de pensar além do código.
Transformações no perfil do programador
Antes, o programador clássico escrevia códigos de forma manual, mas a dependência da IA está mudando essa rotina. Elisa Jardim, gerente da consultoria de recrutamento Robert Half, afirma que funções operacionais, como suporte técnico básico e testes manuais, já estão em declínio por causa da automação. Agora, as habilidades mais buscadas envolvem machine learning, computação em nuvem e cibersegurança, além de criatividade e pensamento crítico.
Profissionais enfrentam desafios e precisões de atualização
Quem está em início de carreira sente dificuldades para acompanhar a velocidade das mudanças provocadas pela IA. Giulliano Pastor, cientista de dados formado pela Unicamp, relata que tarefas simples passaram a depender de IA, levando a um “síndrome do impostor” ao se deparar com entrevistas de emprego onde o uso da tecnologia é proibido. Para se recolocar, ele voltou às aulas de Python e participa de competições de programação.
Novo perfil e novas competências
Giovanni Bassi, programador com 30 anos de experiência, alerta que a IA pode assumir tarefas iniciais, colocando em risco vagas de profissionais juniores. Sua preocupação é que a exclusão de iniciantes comprometa a formação de profissionais seniores no futuro. Segundo ele, é necessário abrir espaço para que novos talentos também tenham oportunidades de crescimento.
Universidades e ensino se adaptam às demandas da IA
As instituições de ensino têm se mobilizado para incorporar a IA na formação acadêmica. Jo Boaler, professora de Stanford, defende que a modernização do ensino deve focar em desenvolver o pensamento crítico, a criatividade e a capacidade de formular perguntas relevantes, deixando de lado conteúdos que a IA consegue automatizar. No Porto Digital, no Recife, metade das 475 empresas utiliza IA no dia a dia, e a tendência é que o setor seja cada vez mais integrado ao aprendizado universitário.
Educação e inovação para o futuro
Segundo Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, a educação precisa acompanhar o ritmo de transformação tecnológica. Ferramentas de IA estarão presentes em atividades práticas, capacitando alunos a lidarem com níveis mais complexos de abstração e criatividade, essenciais para o mercado de trabalho do futuro.
Impactos e desafios éticos da IA
O avanço da IA também trouxe à tona questões éticas e de segurança. Empresas e governos discutem regulamentações, como a proposta de Lula de regulação das big techs, além de ações internacionais contra o abuso de poder por parte de gigantes digitais. No setor de trabalho, a dependência tecnológica passou a exigir uma nova postura dos profissionais, que precisam equilibrar o uso da IA com o pensamento crítico e a visão social das tecnologias.
Mais do que uma mudança tecnológica, a revolução da IA representa uma transformação na forma de pensar e atuar na carreira de TI, exigindo adaptação contínua e múltiplos talentos para prosperar nesse cenário de rápidas mutações.