O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou uma carta nesta sexta-feira (24) cobrando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela suposta lentidão na reforma agrária. O movimento exige que 100 mil famílias acampadas em todo o país sejam assentadas, contestando os números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e classificando a atual situação como uma “paralisação da reforma agrária”.
O documento, assinado pela coordenação nacional do MST, é resultado de quatro dias de reunião da cúpula do movimento em Belém (PA). Além de criticar a administração federal, o MST também acusou o Congresso Nacional de atuar de forma “perversa” em favor do agronegócio, dificultando avanços em políticas públicas voltadas para o campo.
Assentamentos ou regularizações, questiona MST
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, chefiado pelo petista Paulo Teixeira, o governo Lula teria assentado 71,4 mil famílias ao longo de 2024, aproximando-se da meta de incorporar 295 mil famílias ao Programa Nacional de Reforma Agrária até o fim de 2026. Contudo, esses números foram contestados pelo MST.
De acordo com o movimento, os dados divulgados pelo governo incluem, em sua maioria, famílias que passaram por processos de regularização fundiária e não por novos assentamentos. Em entrevista ao portal Repórter Brasil, a coordenadora do MST, Ceres Hadich, afirmou que nenhum novo assentamento foi criado em 2024.
MST critica governo Lula
“O que vemos no campo é uma clara paralisação da reforma agrária”, declarou Hadich, criticando a ausência de avanços concretos no programa e a falta de novas áreas destinadas à reforma agrária.
Críticas ao Congresso e ao agronegócio
Na carta, o MST ampliou suas críticas, apontando o Congresso Nacional como um dos principais obstáculos à reforma agrária. O movimento acusou a maioria dos parlamentares de “legislar em prol dos interesses do grande capital” e de transformar o Poder Executivo em “refém” do agronegócio.
A crítica reflete um cenário de embates entre o MST e representantes do setor agropecuário, que defendem o fortalecimento do agronegócio como motor da economia brasileira. Para o movimento, essa agenda prejudica a implementação de políticas sociais e o avanço da reforma agrária.
Pressão por novas pautas
Além de cobrar a aceleração no assentamento das 100 mil famílias acampadas, o MST destacou outros compromissos prioritários, como a demarcação de territórios indígenas e o reconhecimento de territórios quilombolas. Essas pautas integram a luta histórica do movimento por justiça social no campo.
No documento, o MST também reafirmou seu alinhamento ideológico com países como Cuba, Palestina e Venezuela, defendendo a solidariedade internacional com governos que enfrentam pressões externas. Recentemente, uma comitiva do movimento esteve presente na cerimônia de posse de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, acusado de liderar um regime ditatorial.
Cenário político e os desafios da reforma agrária
A cobrança do MST expõe tensões internas no governo Lula, que enfrenta o desafio de equilibrar as demandas históricas de movimentos sociais com as pressões do agronegócio e do Congresso Nacional. O setor agropecuário é um dos pilares da economia brasileira, e sua influência no Legislativo dificulta a implementação de políticas redistributivas de terras.
Desde sua posse, Lula prometeu priorizar a reforma agrária como parte de sua agenda de justiça social. No entanto, o ritmo das ações governamentais e a falta de novos assentamentos têm gerado frustração entre os movimentos do campo, que esperavam maior celeridade.
Com a pressão do movimento e as críticas ao Congresso, a reforma agrária volta ao centro do debate nacional, relembrando a urgência de uma agenda que promova desenvolvimento no campo e enfrente as desigualdades históricas na distribuição de terras no Brasil.