Brasil, 7 de setembro de 2025
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Reação de trabalhadora sexual a “Anora”: Uma crítica necessária

Recentemente, o filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, tem gerado discussões acaloradas entre a comunidade de trabalhadores sexuais. Enquanto a produção recebeu aclamação crítica e prêmios, muitas profissionais do setor questionam sua precisão e impacto na visão social sobre a indústria do sexo.

A crítica de uma trabalhadora sexual ao retrato de “Anora”

Emma*, uma acompanhante e dançarina de 25 anos que atua em um clube de strip em Manhattan há dois anos, foi uma das vozes a expressar sua insatisfação com a forma como o filme retrata o trabalho sexual. Para ela, muitos aspectos mostrados na obra refletem a realidade, mas outras cenas criam uma narrativa distorcida e sensacionalista.

Percepções iniciais e realismo no começo

Emma revelou que, ao assistir às primeiras cenas, sentiu que o filme retratava com fidelidade seu cotidiano. “Quando comecei, achei que era bem próximo da minha rotina. Fiquei até entediante, o que provavelmente indica que é real”, contou. No entanto, ela apontou que certos detalhes, como as interações nas cenas de bastidores, mostraram uma compreensão superficial da dinâmica do setor.

Dependência financeira e narrativa de relacionamentos

A trabalhadora criticou a ideia de que as personagens, especialmente Ani, se envolveriam emocionalmente com clientes que não oferecem segurança financeira sólida. “Na nossa realidade, sabemos que dependência de um homem que não tem estabilidade não é uma estratégia inteligente. Nós preferimos a independência”, afirmou.

Representação de comportamento e atitudes na indústria

Emma destacou que comportamentos de “meninas malvadas” no clube, como a personagem que zombam de Ani, são inverossímeis, pois esse tipo de atitude não sobreviveria na rotina diária. “A verdadeira razão de continuarmos no setor é a inteligência e força das colegas na sala de camarim, que se apoiam mutuamente”, reforçou.

Exposições de emoções e a narrativa do amor

Para a profissional, a ideia de que uma mulher de escorts possa se apaixonar por um cliente, especialmente por um jovem e aparentemente ingênuo como Vanya, é uma fantasia simplista. “A gente sabe que tudo não passa de trabalho, de dinheiro. Quando eles tentam mostrar que há algum sentimento real, é uma mentira”, afirmou.

Ela considera preocupante a forma como o filme sugere que Ani, ao se envolver com Vanya, deixa de ser independente para depender do relacionamento, reforçando a ideia de uma narrativa sensacionalista sobre o setor.

O impacto na percepção e possíveis perigos

Emma alertou sobre a influência negativa que esse tipo de representação pode ter na visão de jovens homens. “Tem muito garoto que acha que, por ser bonito e rico, pode namorar uma acompanhante ou até pensar que o trabalho sexual é algo que vai levar ao amor verdadeiro. Isso é perigoso”, afirmou.

Reflexões finais e críticas à romantização

Sua maior frustração está na forma como o filme reforça a ideia de que dor e sofrimento fazem parte da rotina, apresentando a experiência da prostituição como uma história de melancolia e perda emocional. “A nossa dor não vem do sexo, mas da insegurança financeira e da falta de reconhecimento na sociedade”, ponderou.

Emma também criticou o final do filme, que mostra Ani em uma situação emocionalmente vulnerável no carro: “Gostaria que terminasse com ela jogando o número do Igor fora, reforçando que ela não é uma vítima indefesa.” Para ela, a narrativa deveria refletir a força e autonomia das profissionais do setor, e não um roteiro de tristezas sensacionalistas.

O impacto da mídia na percepção pública

Por fim, Emma acredita que produções como “Anora” lucram ao alimentar a fantasia de um amor impossível e uma situação de sofrimento, reforçando estereótipos que prejudicam a compreensão social do trabalho sexual. “As pessoas estão ganhando dinheiro e prestígio a partir da fantasia de um homem que acha que a mulher é um objeto emocionalmente vulnerável”, concluiu.

*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.

Tags: indústria do sexo, críticas ao cinema, representação feminina, prostituição, cultura popular

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