Brasil, 7 de setembro de 2025
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Setor calçadista de Franca sofre com tarifas de 50% dos EUA

Setor calçadista de Franca enfrenta demissões e incertezas após aumento das tarifas de importação nos Estados Unidos.

O setor calçadista da cidade de Franca, em São Paulo, está enfrentando dificuldades significativas desde que os Estados Unidos impuseram tarifas de importação de 50% sobre diversos produtos brasileiros, incluindo calçados. Essa medida, conhecida como “tarifaço”, foi assinada pelo presidente Donald Trump no dia 30 de julho e entrou em vigor em 6 de agosto. Apenas um mês após o início dessa política comercial, as consequências já são visíveis nas fábricas locais, que relatam demissões, férias coletivas e pedidos de produção suspensos.

Impactos imediatos no setor calçadista

Dados recentes do Ministério da Exportação revelam que, entre junho e agosto de 2025, as exportações de calçado de Franca para os EUA totalizaram US$ 5,7 milhões, enquanto no mesmo período do ano passado, esse número foi ligeiramente maior, atingindo US$ 5,9 milhões. No entanto, apesar da queda no curto prazo, há um pequeno sinal de recuperação em relação ao começo do ano: de janeiro a agosto houve um crescimento de 14,2% nas exportações, alcançando US$ 16,2 milhões, em comparação a US$ 14,2 milhões em 2024. Os Estados Unidos continuam sendo o principal mercado para os calçados produzidos em Franca.

Demissões e dificuldades operacionais

Com a nova tarifa, fábricas especializadas em atender o mercado americano já começaram a reduzir sua produção. Em uma das indústrias da região, apenas uma das quatro linhas de moldagem permanece operando. José Aparecido da Silva, diretor industrial de uma dessas fábricas, relatou que 22 trabalhadores foram demitidos e 60% do quadro de funcionários está em férias coletivas. “Estamos tentando contornar a situação, mas está muito crítico”, disse ele.

O impacto financeiro é outro fator que complica ainda mais a situação. Um par de sapatos que custava US$ 32,50 para o consumidor americano agora pode chegar a US$ 47,55, um aumento significativo que pode afastar os consumidores.

A perda de mão de obra qualificada

Adicionalmente, as fábricas que anteriormente investiram em mão de obra especializada para garantir a qualidade dos seus produtos agora enfrentam o risco de perder esses profissionais devido à queda nas ordens de produção. Júlio Schreck, um agente de exportação, expressou preocupação sobre a dificuldade de formar profissionais qualificados e o impacto que isso poderá ter nas operações futuras das fábricas. “Se essa mão de obra se perder, teremos um grande problema”, alertou.

Desafios nas negociações com os EUA

As empresas também estão encontrando desafios ao tentar renegociar contratos com seus compradores americanos. A proposta de dividir a tarifa em partes iguais entre empresas brasileira e americana se mostra inviável, uma vez que as fábricas não têm margem para arcar com essa divisão sem comprometer sua saúde financeira. “Mesmo concedendo algum desconto, as fábricas deverão retirar do seu capital de giro para manter o cliente, e isso sem certeza de que o cliente aceitará”, explicou Schreck.

Respostas do governo e alternativas para o setor

Para mitigar os efeitos adversos da tarifa, o governo federal anunciou linhas de crédito, prazos maiores para o pagamento de impostos, além de restituições destinadas aos setores afetados. O economista Kléber Galerani observa que, embora o desafio seja grande, existem caminhos alternativos a serem explorados. “As indústrias podem cortar custos, acessar créditos, buscar novos mercados e até realocar parte da produção para o mercado interno”, sugere.

Em um contexto mais amplo, em 2024, Franca exportou US$ 22 milhões em calçados para os Estados Unidos. De janeiro a julho de 2025, 19% da produção local foi destinada ao mercado americano, evidenciando a relevância desse mercado para a economia local.

A situação atual do setor calçadista de Franca destaca a fragilidade das relações comerciais e a necessidade de soluções urgentes para preservar não apenas os empregos locais, mas a viabilidade das indústrias em um mercado global competitivo.

As repercussões do “tarifaço” continuam sendo monitoradas de perto, e as próximas semanas podem determinar o futuro econômico de muitos trabalhadores e suas famílias na cidade de Franca.

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