A variação de 0,11% do IPCA-15 em janeiro é apenas um detalhe diante da alta da inflação de serviços subjacentes no mesmo período, avalia Samuel Pessôa, economista e pesquisador associado ao FGV Ibre, em entrevista ao jornal O GLOBO. Este indicador, considerado o melhor preditor da inflação futura por carregar a inflação inercial e ser pouco suscetível a choques, registrou um aumento de 0,96%, significativamente acima dos 0,68% observados em janeiro do ano passado.
Na visão de Pessôa, o dado reforça a previsão de que o Banco Central deve realizar dois aumentos de um ponto percentual na Taxa Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
“A economia está rodando acima de sua capacidade e será necessário aumentar a taxa de desemprego para desacelerá-la”, afirmou o economista.
Mercado de trabalho pressiona inflação
Os serviços intensivos em mão-de-obra subiram 0,77% em janeiro, já descontados os efeitos sazonais, contra 0,535% no mesmo mês do ano passado. Segundo Pessôa, isso evidencia que o mercado de trabalho está aquecido e começa a impactar a inflação. “Esses números mostram que estamos com uma economia operando além da capacidade produtiva”, explicou.
De acordo com ele, o Brasil vive um momento em que a taxa de desemprego está abaixo do nível necessário para manter a inflação constante, estimado entre 7,5% e 8% após a Reforma Trabalhista.
“Com o desemprego em torno de 6%, a inflação fica pressionada porque os salários crescem além da produtividade do trabalho, espremendo os lucros e gerando pressão por repasse de custos”, afirmou.
Produtividade como solução de longo prazo
Para equilibrar a economia sem depender de uma taxa de desemprego elevada, Pessôa destaca a importância de aumentar a produtividade, começando pela educação básica. Ele critica o histórico de falhas no setor educacional brasileiro, que limitam o ganho de produtividade. “Os países asiáticos mostram como a educação pode transformar a produtividade de uma economia. No Brasil, ainda estamos muito longe disso”, apontou.
Selic pode chegar a 15% em 2025
O economista também avalia que, neste ano, as políticas monetária, liderada pelo Banco Central, e fiscal, conduzida pelo governo, devem atuar alinhadas para controlar a inflação. Ele projeta que a Selic termine 2025 em 15%, como resposta ao cenário de pressão inflacionária.
Para o controle da inflação, conclui Pessôa, será necessário não apenas ajustes na taxa de juros, mas também a compreensão de que há limitações econômicas no curto prazo.
“Se a taxa de desemprego cai muito, a inflação sai do controle. É um reconhecimento difícil para a sociedade, mas essencial para a estabilidade econômica.”