O fundo de pensão da Eletrobras, conhecido como Eletros, enfrenta uma crise sem precedentes, com um déficit de quase R$ 1 bilhão, equivalente a 63% de seu patrimônio total, avaliado em R$ 1,66 bilhão. A situação foi revelada em um balancete publicado em dezembro de 2024, que mostrou um saldo acumulado negativo de R$ 78 milhões em 2023 e de R$ 234 milhões até novembro de 2024. O impacto dessa crise tem recaído diretamente sobre os aposentados, que agora enfrentam cortes drásticos em seus benefícios.
Aposentados na linha de frente do prejuízo
Cerca de 630 aposentados que dependem do fundo de pensão começarão a receber contracheques com descontos significativos, comprometendo, em alguns casos, quase a totalidade de seus benefícios. Esses descontos referem-se a parcelas extraordinárias que haviam sido suspensas por uma liminar judicial desde 2020, mas que foram restabelecidas após decisão de abril de 2024. O montante não pago ao longo desse período é estimado em R$ 170 milhões, e os descontos serão aplicados proporcionalmente à expectativa de vida dos beneficiários, muitos dos quais têm idade média de 80 anos.
“É um desrespeito absoluto com pessoas que dedicaram suas vidas à empresa. Agora, enfrentamos o risco de não termos recursos para viver com dignidade”, afirma Cristina Almeida, representante da Associação dos Assistidos dos Planos Previdenciários da Eletros (AABD).
Críticas à gestão do fundo
A administração do Eletros tem sido alvo de críticas por sua ineficiência e falta de transparência. Cristina Almeida destaca que a rentabilidade do fundo foi muito inferior à meta atuarial esperada, agravando ainda mais o desequilíbrio financeiro. Especialistas alertam que, sem uma mudança estrutural na gestão e nas regras, será inevitável a necessidade de um novo plano de equacionamento, o que aumentará ainda mais o peso financeiro para os beneficiários.
Além disso, sindicatos e associações de aposentados têm criticado a falta de diálogo e clareza nas decisões da nova administração da Eletrobras, especialmente no contexto pós-privatização.
“As regras mudaram, mas o impacto está caindo sobre quem não tem como se defender. O fundo de pensão está sendo tratado como uma questão secundária, enquanto os aposentados sofrem as consequências”, denuncia José Pereira, representante de um dos sindicatos dos trabalhadores.
Impactos da privatização
A crise no Eletros ocorre em um momento em que as estatais brasileiras enfrentam uma série de desafios após as privatizações. Desde a venda da Eletrobras em junho de 2022, sindicatos e especialistas alertam sobre os riscos de fragilização dos fundos de pensão, que estão cada vez mais vulneráveis a déficits devido à falta de investimentos estratégicos e à ausência de um plano claro para sustentar os direitos dos beneficiários.
A situação do Eletros não é isolada. Outras estatais privatizadas também enfrentam dificuldades para equilibrar seus fundos de pensão, levantando preocupações sobre a sustentabilidade desses sistemas no longo prazo. No caso da Eletrobras, a pressão externa, como juros altos, inflação elevada e um cenário econômico global desafiador, somam-se à gestão considerada ineficiente, aumentando o desequilíbrio financeiro do fundo.
A quem cabe a responsabilidade?
Para especialistas, o rombo bilionário do Eletros é o resultado de uma combinação de fatores: má gestão, mudanças nas regras após a privatização e falta de fiscalização adequada. “O que vemos aqui é uma tempestade perfeita. Sem ajustes imediatos e eficazes, o fundo corre o risco de um colapso total, prejudicando não só os aposentados, mas também a credibilidade do sistema previdenciário do país”, avalia o economista Bráulio Carvalho.
O futuro do Eletros e dos beneficiários
O governo e a administração da Eletrobras enfrentam uma pressão crescente para encontrar soluções que revertam a situação do Eletros. No curto prazo, ajustes emergenciais, como aportes financeiros e renegociações de dívidas, podem ser necessários. No entanto, os aposentados e especialistas clamam por uma revisão estrutural na gestão do fundo e maior transparência na tomada de decisões.
Enquanto isso, os aposentados enfrentam um cenário de incerteza, com benefícios reduzidos e custos crescentes, o que levanta a pergunta: quem pagará o preço dessa crise no longo prazo? A resposta, até o momento, parece estar recaindo sobre aqueles que já contribuíram ao longo de suas vidas para construir a estatal.