O déficit de transações correntes do Brasil, que mede o saldo entre as entradas e saídas de dólares no país, deu um salto significativo em 2024, chegando a US$ 56 bilhões, ou 2,55% do PIB, contra US$ 24,5 bilhões (1,12% do PIB) no ano anterior. Este resultado chamou atenção no mercado, e especialistas apontam fatores internos e externos como responsáveis pela alta. As informações foram divulgadas nesta semana pelo Banco Central.
Segundo Bráulio Borges, economista da LCA 4intelligence e pesquisador associado do FGV Ibre, o resultado foi impactado por um mercado interno superaquecido, problemas climáticos que reduziram a safra, antecipação de importações de automóveis chineses e a recessão na Argentina, que afetou as exportações brasileiras.
Por que o déficit aumentou tanto?
A seguir, os quatro fatores principais que explicam o aumento do déficit em 2024, de acordo com Borges:
- Mercado interno superaquecido:
Durante a segunda metade de 2024, a economia brasileira mostrou sinais de superaquecimento. Quando a demanda interna cresce além da capacidade de oferta, as empresas passam a depender mais de importações para suprir o mercado. Além disso, muitas indústrias priorizaram o mercado interno, reduzindo exportações. - Importação de carros chineses:
A importação de automóveis chineses teve um aumento expressivo no ano passado, impulsionada pela tentativa de fugir do aumento de impostos anunciado em 2023. Estima-se que cerca de 70 mil carros chineses ficaram parados nos portos brasileiros, refletindo uma antecipação que pressionou as contas externas. - Quebra de safra:
O fenômeno climático El Niño e uma estiagem severa reduziram a safra de grãos brasileira em quase 7% em 2024. Como grande parte da produção de grãos do Brasil é exportada, essa queda prejudicou o desempenho das exportações, piorando o saldo da balança comercial. - Crise na Argentina:
A recessão econômica na Argentina, principal parceiro comercial do Brasil na América do Sul, também afetou negativamente o saldo comercial brasileiro. O consumo das famílias argentinas caiu cerca de 3%, enquanto os investimentos recuaram 17% no ano passado. Esses fatores reduziram a demanda por produtos brasileiros, especialmente no setor de bens manufaturados.
2025 pode ter cenário mais positivo
Apesar do resultado preocupante em 2024, a perspectiva para 2025 é mais otimista. De acordo com projeções de analistas, o déficit em transações correntes deve diminuir. O consenso do relatório Focus aponta para um déficit de US$ 52 bilhões, com algumas revisões recentes projetando até US$ 46,5 bilhões. Entre os fatores que podem contribuir para esse alívio estão:
- Aumento da produção agrícola:
A safra de grãos deve crescer cerca de 10% em 2025, recuperando parte das perdas do ano passado. Esse aumento na oferta deve beneficiar as exportações, fortalecendo a balança comercial. - Extração de petróleo e gás:
A produção de petróleo e gás, que ficou estagnada em 2024, deve crescer mais de 10% neste ano. Como grande parte dessa produção é destinada ao mercado externo, espera-se que essa expansão contribua para a redução do déficit.
Reflexos para a economia brasileira
Embora o déficit em transações correntes tenha aumentado significativamente em 2024, o cenário de 2025 sinaliza recuperação, com destaque para os setores agrícola e energético. No entanto, o episódio reforça a necessidade de políticas econômicas que priorizem o equilíbrio entre demanda interna e oferta externa, evitando pressões excessivas nas contas do país.
A recuperação também dependerá de fatores externos, como a retomada econômica na Argentina e as condições climáticas favoráveis para a produção agrícola. Enquanto isso, especialistas destacam que o monitoramento da balança comercial continuará sendo crucial para a estabilidade da economia brasileira em 2025.
Boletim Focus orienta decisões econômicas no Brasil
O Boletim Focus é amplamente reconhecido como um termômetro da confiança do mercado financeiro, funcionando como uma bússola para agentes econômicos e formuladores de políticas públicas. Suas previsões, especialmente em relação ao IPCA, à taxa Selic e ao PIB, influenciam diretamente as decisões de investimentos e planejamento de empresas, bem como a atuação do Banco Central no controle da inflação e estabilidade da economia. Além disso, as atualizações semanais permitem acompanhar tendências e mudanças no cenário econômico, especialmente em momentos de incerteza ou volatilidade, reforçando sua relevância como uma ferramenta indispensável para a análise econômica no Brasil.