O leilão do túnel Santos-Guarujá, obra prevista para ligar os dois municípios da Baixada Santista por meio de um túnel bilionário, foi palco de discursos ambíguos que exaltaram a parceria institucional, mas também revelaram as tensões políticas entre o governo federal e o estadual. Com recursos dos governos federal e de São Paulo, a realização do projeto reforça a complexidade da atual configuração política brasileira.
Discursos de união marcados por alfinetadas entre líderes
Durante o evento, os representantes do governo federal e do governo estadual fizeram discursos separados, somente concordando formalmente após uma intervenção do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. Ele destacou que se tratava de uma obra conjunta, chamando Alckmin e Tarcísio para oficializar a parceria. Apesar disso, as autoridades mantiveram postura reservada, sentadas lado a lado na plateia, sem grande interação ao longo do evento. Enquanto Haddad saiu mais cedo, Tarcísio e Alckmin trocaram apenas olhares e um breve aperto de mãos.
Mensagens de Haddad e Tarcísio sobre o projeto
Haddad: defesa da parceria e crítica à polarização
O ministro da Fazenda do governo Lula enfatizou que a obra simboliza o “espírito republicano” e a superação da “polarização autoritária”. Ele destacou a importância da recuperação de investimentos em infraestrutura, ressaltando que o projeto do túnel, prometido há mais de um século, foi possível graças à retomada de dotações orçamentárias. “Ninguém discutiu protagonismo nesta obra. Aqui, todos trabalhamos juntos para realizar um sonho antigo”, afirmou Haddad, reforçando o papel do presidente Lula na retomada de investimentos públicos.
Tarcísio: foco em resultados e apelo à união
O governador de São Paulo destacou a celebração pelo avanço do projeto e reforçou o compromisso de colocar o interesse do cidadão em primeiro lugar. Segundo ele, a obra representa esperança e uma nova fase de desenvolvimento na região, além de deixar um legado político e econômico. “Vamos atender a quem precisa se deslocar com mais rapidez, eliminando trajetos longos e ajudando o progresso de toda a Baixada Santista”, afirmou Tarcísio. Ele também convocou seus aliados a trabalhar juntos pelo sucesso do projeto.
Impactos políticos e perspectivas futuras
O túnel Santos-Guarujá deve se tornar uma vitrine eleitoral para ambos os lados na corrida presidencial e na disputa por reeleição em São Paulo em 2026. A relação entre Lula e Tarcísio, que ontem mostrava sinais de colaboração, já se deteriorou desde o anúncio inicial, com troca de críticas públicas e tensionamentos sobre quem lidera o projeto. Recentemente, o governo federal tem valorizado o túnel em campanhas e propagandas, enquanto a gestão estadual assume protagonismo na modelagem e execução.
Nos bastidores, Tarcísio, que busca consolidar sua imagem como possível candidato ao Palácio do Planalto, tem reforçado sua oposição a Lula, criticando ações do governo e apoiando pautas como a isenção de condenados pelo 8 de janeiro e a gestão de Bolsonaro. Lula, por sua vez, reforçou que a obra mostra que é possível realizar projetos de longa data em parceria, apesar das disputas políticas internas.
O legado do túnel, que poderá ser uma das maiores obras de infraestrutura do Brasil neste século, promete ser não apenas uma mudança na mobilidade da região, mas também um símbolo da complexa relação política entre os líderes do país.
Fonte: O Globo
