Na última semana, durante a inauguração de uma praça em São Bernardo do Campo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), revelou que acompanharia à distância o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Essa declaração, no entanto, foi apenas a ponta do iceberg de uma estratégia política mais elaborada que o governador está preparando, visando não apenas o apoio a Bolsonaro, mas também as eleições presidenciais de 2026.
Movimentos políticos em prol da anistia
Desde a semana passada, Tarcísio começou a sondar aliados sobre a viabilidade do projeto de lei que propõe a anistia a Bolsonaro, um assunto que gerou forte insatisfação entre os membros mais radicais da direita, incluindo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL). O governador, já ciente das dificuldades que seu correligionário Hugo Motta (presidente da Câmara dos Deputados) enfrentaria para trazer a pauta ao plenário, iniciou uma contagem informal dos votos disponíveis, conforme relatos de interlocutores.
Tarcísio se mostrou otimista sobre o projeto, descrevendo-o como um “fator de pacificação”. Em uma de suas falas, ele destacou: “A gente acredita muito nesse projeto como um fator de pacificação”. Contudo, ao mesmo tempo que se mostrava apoiador de Bolsonaro, deixou claro que seu objetivo é construir uma imagem sólida e viável para as próximas eleições presidenciais, um caminho que ele mesmo vinha refutando até recentemente.
Os encontros secretos e a articulação de Tarcísio
Na busca por apoio, o governador decidiu manter discrição em suas reuniões com parlamentares e líderes partidários. Na terça-feira, o deputado Sóstenes Cavalcante, líder do PL, assegurou aos membros da bancada bolsonarista que o Republicanos estava comprometido com a anistia e que a maioria para aprovar a proposta estava formada. Mesmo entre apoiadores de Bolsonaro, surgiram críticas à postura mais cautelosa de Tarcísio.
Entre suas várias reuniões, Tarcísio se encontrou com o senador Ciro Nogueira (Progressistas) e outros líderes partidários, além de ter conversas diretas com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir a possibilidade de evitar que o texto fosse considerado inconstitucional. Durante um jantar com aliados, o governador reiterou que a solução para a questão da anistia deve partir do Congresso: “A anistia é prerrogativa do Congresso. Todos respondem pelos mesmos crimes”, disse Malafaia, que foi um dos convidados da noite.
Reações adversas e suas implicações políticas
As ações de Tarcísio, que se mostram cada vez mais alinhadas ao legado bolsonarista, não passaram despercebidas por seus opositores. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros membros do governo atual têm criticado abertamente o governador, sugerindo que ele é uma figura que deve sua ascensão diretamente a Bolsonaro. A própria ministra Gleisi Hoffmann referiu-se a Tarcísio como um “candidato fantoche”, ecoando críticas que já foram dirigidas a outros políticos em momentos semelhantes.
A resposta do governo em resposta à articulação de Tarcísio indica um ambiente político tenso e polarizado, onde a lealdade ao ex-presidente é vista como um risco para qualquer candidato que ouse avançar em um cenário eleitoral. A análise do contexto revela que o governador corre o risco de ser visto como um extremista ou conivente em ações que sugiram golpes de Estado, um ponto que analistas políticos veem como uma estratégia arriscada para 2026.
A percepção do eleitorado
De acordo com uma pesquisa recente do Datafolha, uma parte significativa da população brasileira não apoiaria um candidato que se comprometesse a livrar Bolsonaro de acusações graves. Com 61% dos entrevistados se mostrando contra esse tipo de proposta, é evidente que a anistia a Bolsonaro pode repercutir negativamente na imagem de Tarcísio e na sua viabilidade como candidato a presidente.
Além disso, a crítica interna da direita se intensifica, com figuras como Eduardo Bolsonaro se manifestando sobre a falta de um perfil combativo esperado por seus eleitores. Assim, enquanto Tarcísio avança em sua estratégia, o cenário político se mostra cada vez mais complexo, com o governador caminhando sobre uma corda bamba entre a necessidade de respeitar as bases radicais do bolsonarismo e a construção de uma nova imagem que o leve à presidência.
Nos próximos meses, será crucial observar como essas articulações se desenrolam e qual será o impacto real delas nas eleições de 2026. A questão da anistia a Bolsonaro e a posição de Tarcísio continuam a ser temas centrais na política paulista e nacional.