Nos bastidores do Palácio do Planalto, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstram ceticismo em relação à ameaça de expulsão imposta pelo União Brasil e pelo PP aos seus filiados que ocupam cargos no governo. A decisão de imposição de um prazo de 30 dias para que os ministros Celso Sabino (União-PA) e André Fufuca (PP-MA) deixem seus postos está sendo encarada como uma manobra política e um blefe dos partidos do Centrão, que ainda desejam manter uma boa relação tanto com o ex-presidente Jair Bolsonaro quanto com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Pressões internas e possíveis saídas
De acordo com a avaliação de articuladores próximos a Lula no Congresso, o ultimato feito pelas cúpulas nacionais do PP e do União Brasil, que decidiram proibir todos os filiados de ocuparem cargos em sua gestão, reflete mais uma estratégia para contemporizar com a antiga liderança do governo do que um verdadeiro interesse em expulsar os ministros. O presidente do União Brasil, Antônio Rueda, por sua vez, enfatizou que o descumprimento da determinação poderia levar ao afastamento imediato dos filiados da legenda.
“Em caso de descumprimento desta determinação por dirigentes desta federação em seus estados, haverá um afastamento em ato contínuo. Se a permanência persistir, serão adotadas as punições disciplinares previstas no estatuto”, afirmou Rueda, deixando claro que a pressão por parte do partido é concreta.
Possíveis soluções para a crise
Embora a situação se apresente desafiadora, o entorno de Lula sugere que uma solução viável seria que os ministros solicitassem licença de suas respectivas legendas, o que poderia amenizar a tensão sem levar a um rompimento definitivo. Fufuca e Sabino, ambos com planos políticos para o futuro — sendo que Fufuca mira uma candidatura ao Senado em 2026 —, mostram resistência em deixar suas posições, numa clara demonstração de lealdade à gestão petista.
O apoio de Lula e cenários regionais
Na terça-feira, o ministro do Esporte, André Fufuca, recebia detalhes positivos sobre sua atuação em notas que ressaltavam seu comprometimento com a agenda institucional do governo. O apoio de Lula a Fufuca é um dado relevante, visto que o deputado já possui um forte vínculo com o estado onde Lula obteve 71% dos votos em 2022.
Por outro lado, Celso Sabino também tem o respaldo do presidente Lula, que o convidou para um almoço no Palácio da Alvorada, estratégias que devem ser levadas em conta na hora de decidir a permanência de ambos no governo. A conversa teve a participação de nomes influentes da política, como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, evidenciando a relevância da discussão na atual conjuntura política.
A dinâmica do governo perante os partidos
De acordo com os assessores de Lula, a análise dos cenários regionais de Fufuca e Sabino será mais impactante do que qualquer acordo feito em nível nacional pelos dirigentes de suas legendas. Ambos ainda desejarão ter Lula como aliado em suas campanhas futuras, o que pode influenciar na decisão de continuarem no governo.
Em paralelo, o Planalto não está buscando dar visibilidade ao ultimato dado pelo União Brasil e PP. A ministra Gleisi Hoffmann, responsável pela articulação política de Lula, não incluiu as duas legendas nas conversas convencionais após o anúncio, reafirmando a necessidade de fidelidade dos ministros que permanecerem no governo. Gleisi declarou: “Ninguém é obrigado a ficar no governo. Também não estamos pedindo para ninguém sair”.
Permanência e compromisso com o governo
“Mas quem permanecer deve ter compromisso com o presidente Lula e com as pautas principais que este governo defende, como justiça tributária, a democracia e o estado de direito, nossa soberania. Precisam trabalhar conosco para aprovação das pautas do governo no Congresso Nacional”, concluiu Gleisi, evidenciando que as regras do jogo devem ser claras para aqueles que decidirem ficar.
Portanto, no atual cenário, apesar das pressões externas e das ameaças de afastamento, a expectativa entre os aliados de Lula é de que os ministros do Centrão permaneçam em seus cargos, a partir do entendimento de que a parceria pode oferecer benefícios a ambos os lados nas próximas disputas eleitorais.