A produção da indústria brasileira registrou uma leve queda de 0,2% em julho em relação ao mês anterior, indicando um novo período de estagnação após quatro meses consecutivos sem crescimento, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Efeito do juro alto mantém setor em baixa
De acordo com o gerente da pesquisa, André Macedo, a baixa da indústria desde abril é explicada pela política monetária restritiva, ou seja, pelos juros elevados, uma medida do Banco Central (BC) para conter a inflação.
“Em termos conjunturais, destacam-se os efeitos de uma política monetária mais restritiva – que encarece o crédito, eleva a inadimplência e afeta negativamente as decisões de consumo e investimentos. Esses fatores contribuíram para limitar o ritmo de crescimento da produção industrial no período, refletindo-se em resultados mais moderados frente aos meses anteriores”, analisa Macedo.
Atualmente, a taxa básica de juros, a Selic, está em 15% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006. Os juros altos desestimulam o consumo e o investimento, atuando como ferramenta para conter a inflação, cujo índice oficial, o IPCA, acumula alta de 5,23% em 12 meses.
Em julho, a inflação se manteve acima do teto da meta do governo, que é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, chegando a 4,5%. O índice oficial, divulgado pelo IBGE, mostrou que a inflação fechou o mês em 0,26%, com alimentos caindo pelo segundo mês consecutivo.
Setores e atividades industriais em retração e crescimento
Na passagem de junho para julho, 13 das 25 atividades industriais apresentaram queda, sendo destaque negativo a metalurgia (-2,3%), produção de equipamentos de transporte (-5,3%) e impressão e reprodução de gravações (-11,3%). Ainda assim, alguns setores tiveram avanços, como produtos farmoquímicos e farmacêuticos (7,9%), alimentos (1,1%) e indústrias extrativas (0,8%).
Entre as categorias de bens, bens de consumo duráveis e bens de capital—que compreendem máquinas e equipamentos—registraram aumentos de 0,5% e 0,2%, respectivamente, enquanto bens intermediários tiveram crescimento de 0,5% e bens de consumo semi e não duráveis cresceram 0,1%.
Impacto do tarifaço americano e perspectivas futuras
Segundo André Macedo, o resultado de julho também foi influenciado pelo tarifaço americano, que começou na primeira semana de agosto. A ameaça de taxação às exportações brasileiras para os EUA impactou expectativas e decisões de empresários, sobretudo os voltados ao mercado externo.
Apesar do efeito do tarifaço, a principal explicação para o resultado negativo no setor industrial permanece sendo a política de juros elevados, que limita o consumo e os investimentos.
O setor industrial acumulou uma perda de 1,5% entre abril e julho, com quedas em abril (-0,7%) e maio (-0,6%), além de estabilidade em junho (0%). A comparação com julho de 2024 revela um avanço de 0,2%, e, nos últimos 12 meses, o crescimento chega a 1,9%.
O setor está atualmente 1,7% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 15,3% abaixo do recorde histórico de maio de 2011. Para o final de 2024, a expectativa é de uma expansão de 0,3% na produção industrial.
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