A cobrança feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a reunião ministerial nesta segunda-feira (20) evidenciou as incertezas em torno do apoio de partidos do Centrão ao governo. Entre os principais alvos das expectativas de Lula estão o PP, o Republicanos e o União Brasil, que têm demonstrado um alinhamento estratégico em votações na Câmara, mas seguem em posições mais independentes ou oposicionistas no Senado.
PP adota postura crítica
O presidente do PP, Ciro Nogueira, afirmou que a cobrança de Lula “não impacta muito” seu partido, destacando que, se dependesse dele, a legenda não estaria representada na Esplanada dos Ministérios. Atualmente, o PP comanda o Ministério do Esporte, liderado por André Fufuca, mas o partido busca ampliar sua influência no governo.
Nos bastidores, o PP tem articulado para garantir uma pasta que acomode Arthur Lira (AL), presidente da Câmara dos Deputados, que deixará o cargo em fevereiro. Apesar disso, Nogueira reforçou sua intenção de não permitir que o partido componha com Lula na disputa eleitoral de 2026.
Republicanos defende postura independente
Já o Republicanos, comandado por Marcos Pereira, adotou um tom conciliador ao responder à fala de Lula. “Pelas votações que o Republicanos fez, eu acho que ele não tem do que reclamar”, declarou Pereira. Ele também reafirmou a independência do partido, frisando que a sigla vota de acordo com temas relevantes para a economia, mas sem compromissos automáticos com o governo.
Hoje, o Republicanos ocupa o Ministério de Portos e Aeroportos, liderado por Silvio Costa Filho (PE). A possibilidade de mais espaço na Esplanada tem sido considerada como moeda de troca para fortalecer a base de Lula no Congresso.
União Brasil busca manter apoio
O União Brasil, representado no governo pelo ministro das Comunicações, Juscelino Filho, sinalizou a intenção de continuar alinhado ao Palácio do Planalto. “Acredito que o partido pretende, sim, manter o apoio ao governo e continuar ajudando o Brasil no avanço da economia e políticas públicas”, declarou Juscelino, indicando que a legenda discutirá a questão internamente.
Apesar do apoio na Câmara, o União Brasil, assim como o PP e o Republicanos, mantém uma postura mais crítica no Senado, evidenciando o desafio de Lula em consolidar uma base coesa nas duas casas legislativas.
O desafio de 2025 para 2026
A cobrança de Lula reflete sua preocupação com o alinhamento dos partidos em um momento estratégico para o governo. “Estamos chegando no processo eleitoral, e a gente não sabe se os partidos que vocês representam querem continuar trabalhando conosco ou não”, afirmou o presidente, apontando para a necessidade de articulação política visando 2026.
A cientista política Carolina Venuto destacou que a fala de Lula tem um duplo propósito. “O presidente chama seus ministros para o projeto eleições 2026, ao mesmo tempo em que reforça a expectativa de alinhamento das bancadas com as entregas necessárias para a imagem do governo em 2025”, explicou Venuto.
Um ano decisivo para o governo
O apoio parcial do Centrão em 2024 foi crucial para algumas vitórias legislativas do governo, mas Lula parece querer mais. O presidente aposta na força política de seus ministros para garantir que as bancadas estejam alinhadas com as prioridades do Executivo, especialmente em um ano pré-eleitoral.
As negociações para redistribuir cargos e ministérios podem ser a chave para reforçar a base governista. No entanto, a independência declarada por lideranças como Ciro Nogueira e Marcos Pereira mostra que o apoio do Centrão pode não ser tão sólido quanto Lula deseja.