Na última semana, recebi um e-mail que mudou tudo: uma cliente canadense declarou que não faria mais negócios comigo por causa da política americana, cortando uma fonte de renda importante. Esse episódio ilustra a crescente onda de exclusão enfrentada por profissionais e cidadãos americanos diante do cenário político internacional, especialmente após controvérsias recentes.
A demissão do som americano
Sou um dublador de voz com anos de experiência na produção de comerciais, vídeos educacionais e documentários. Minha voz, considerada confiável e inteligente, sempre foi meu diferencial. Contudo, uma organização internacional — que trabalha com países de todos os continentes — decidiu romper laços, alegando que não quer mais associar sua imagem a um “som americano”.
Curiosamente, essa decisão não veio de uma potência adversária, mas de um aliado cordial: o Canadá. Eles justificaram que, devido a conflitos e retóricas políticas dos EUA, preferem se afastar de qualquer representação que envolva o “voz americana”.
Consequências da polarização global
Embora tenha hesitado inicialmente em protestar — querendo mostrar que minhas posições pessoais e minha história de ativismo são compatíveis com qualquer país — percebi que isso não adiantaria. O mundo agrupou os americanos, independentemente de quem votou em quem ou de suas convicções pessoais, e agora enfrentamos as consequências econômicas disso.
Sou experiente em lidar com rejeições, mas perder uma clientela confiável devido às tensões geopolíticas é diferente. Minha renda, que era estável, simplesmente desapareceu por causa das ações de um presidente cujo nome não quero mencionar aqui, mas que claramente causou estragos na imagem internacional do país.
Um gesto de coragem e reconhecimento
Apesar do impacto, tenho de admitir a coragem da equipe canadense por assumir essa postura. Respeito sua decisão e entendo a sua posição, mesmo que isso prejudique um profissional que nunca foi político ou ideologicamente ligado a disputas externas.
O proprietário canadense de quem trabalhava foi honesto. Poderia ter me escondido a verdade ou inventado desculpas sobre mudança de estratégia, mas preferiu me contar que as ações de Washington tiveram efeito direto na sua decisão. Essa transparência, por mais amarga que seja, demonstra integridade.
O futuro dos americanos após alianças rompidas
Estamos diante de uma crise de confiança global. Empresas e governos de países que antes eram aliados agora optam por se distanciar, fortalecendo novos polos de poder e deixando os EUA isolados. Isso afeta diretamente cidadãos comuns, como eu, que veem suas carreiras e vidas afetadas por decisões que não controlamos.
Qual será o destino de uma nação que perdeu a maior parte dos seus parceiros históricos? Podemos nos isolar ainda mais, ou será que essa crise poderá impulsionar uma reflexão interna? São perguntas cujo prognóstico é incerto, mas que todos nós — independentemente de cor política — precisamos encarar.
Resistência e esperança na adversidade
Mesmo na adversidade, não vou desistir. Ainda que o peso do isolamento seja enorme, acredito que a voz — minha e de outros — possa, de alguma forma, fazer a diferença. Assim como resistimos às mudanças, às perdas e às expectativas frustradas, continuarei lutando pelo que acredito, usando minha arte, minha escrita e minha determinação.
Seja pensando em adotar um sotaque britânico, criar uma nova identidade ou simplesmente persistindo na esperança de dias melhores, minha perseverança é o que ainda me mantém de pé. Porque, no final das contas, a esperança de que a democracia e o diálogo possam prevalecer é o que nos move.
Jo Guay é um ator de voz e escritor da Califórnia, com textos publicados na Katie Couric Media e YourTango. Conhecido por seu estilo reflexivo e humorístico, ele escreve sobre saúde mental, questões LGBTQ+, viagens e cultura em seu Medium e Substack. Mais informações em Medium.com/@joeguayvo e Substack.com/@joeguayvo.