O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, anunciou nesta quinta-feira (28) que estuda a possibilidade de suspender temporariamente o pagamento de dívidas de empresas brasileiras impactadas pelas sobretaxas impostas pelos Estados Unidos. A medida, conhecida como stand-still, priorizaria negócios ligados a produtos perecíveis e já foi aplicada em crises anteriores, como as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024.
Alienação de dívidas e estratégias de apoio ao setor exportador
“Vamos trabalhar junto com a Fazenda e os bancos para definir essa estratégia”, afirmou Mercadante durante reunião na sede do BNDES, no Rio de Janeiro. “Para regiões específicas, principalmente de produtos perecíveis, essa pausa nos pagamentos pode ser essencial, enquanto as compras públicas ainda não estão em plena operação.”
O presidente do banco também destacou o esforço de detalhamento das ações do Plano Brasil Soberano, criado pelo governo federal para ajudar exportadores e trabalhadores afetados pela guerra comercial com os EUA. A iniciativa foi discutida em encontro com prefeitos de 15 cidades brasileiras representadas pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.
Medidas do Plano Brasil Soberano e linhas de crédito
Na semana passada, o banco federal anunciou a disponibilização de R$ 40 bilhões em linhas de crédito específicas para empresas atingidas pelos tarifas americanas, das quais R$ 30 bilhões vêm do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) e R$ 10 bilhões de recursos próprios do banco. Essas linhas abrangem capital de giro, busca por novos mercados, aquisição de máquinas e investimentos em inovação tecnológica.
Segundo Mercadante, as ações visam acelerar o fluxo de recursos, “porque o tempo é fundamental na economia. Quanto mais cedo se consegue manter as atividades, menor o impacto negativo na geração de empregos e renda”.
Impactos regionais e demandas municipais
Prefeito de Petrolina, Simão Durando, representando o Vale do São Francisco, detalhou a urgência de prorrogar prazos de exportação de mangas e uvas, devido às sobretaxas que restringem a entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos.
“Mais de um milhão de pessoas no Vale dependem da fruticultura irrigada. Estamos na janela entre agosto e outubro para exportar, e pedimos a dilatação de prazos e acesso ao crédito para evitar prejuízos maiores”, afirmou Durando.
Em Franca, interior de São Paulo, o impacto é no setor de calçados, que emprega entre 12 mil e 14 mil pessoas, principalmente na exportação para os EUA. O prefeito Alexandre Ferreira afirmou que a interrupção nas vendas pode comprometer contratos firmados no ano passado, que não poderão ser revertidos para outros mercados.
Tarifaço e cenário de conflitos comerciais
As sobretaxas de até 50% impostas pelo governo americano contra produtos brasileiros representam uma das maiores ações no contexto da guerra comercial liderada pelo presidente Donald Trump. Essas tarifas fazem parte de uma ofensiva que inclui investigações comerciais, sanções financeiras e ações políticas contra o Brasil.
Para mais detalhes sobre o tarifazo e seu impacto, acesse esta matéria. As medidas geram instabilidade na economia e dificultam a competitividade do país em mercados internacionais.
Segundo analistas, a estratégia do governo brasileiro busca não apenas amparar as empresas mais afetadas, mas também aliviar a pressão sobre regiões e setores mais vulneráveis à guerra comercial. Assim, o esforço conjunto entre o BNDES, municípios e o governo federal é visto como uma tentativa de minimizar os efeitos da crise global.
Para saber mais sobre as linhas de crédito detalhadas pelo banco, acesse esta matéria.
