No dia 25 de agosto de 2025, as confissões religiosas da República Democrática do Congo (RDC) apresentaram um roteiro que visa “restaurar a paz, a coesão nacional e consolidar os direitos democráticos no país”. Esse documento, que se propõe a ser uma saída “holística e sustentável” do ciclo de conflitos armados, foi discutido em entrevista pelo Secretário-Geral da Conferência Episcopal Nacional do Congo (CENCO), Mons. Donatien Nshole, funcionando como ponto de partida para um diálogo que envolve a sociedade civil e políticos.
O caminho proposto na iniciativa
As três principais entidades religiosas do país — a CENCO, a Igreja de Cristo no Congo (ECC) e a Plataforma das Confissões Religiosas — acreditam que esse roteiro é crucial para apoiar o país em um pacto social por meio do diálogo. Segundo Nshole, o plano é dividido em quatro etapas principais, cada uma com objetivos bem definidos que visam transformar o clima atual de desconfiança em um ambiente propício ao diálogo e à paz.
1. O mês da paz
A primeira etapa é intitulada “mês da paz”. Durante este período preparatório, as iniciativas visam promover um clima favorável ao diálogo. “É o momento em que vamos investir espiritualmente e pastoralmente, começando a abordar comunidades mais hostis para trazê-las para a lógica da fraternidade”, explica Nshole. Nesta fase, também serão organizadas ações de advocacia para aliviar tensões, essencial para garantir um diálogo inclusivo.
2. Diálogo entre especialistas
A segunda etapa envolve um diálogo preliminar entre especialistas. Nessa fase, acadêmicos nacionais em diferentes campos como boa governança, segurança e desenvolvimento comunitário serão consultados. O trabalho dos especialistas se tornará a base para propostas a serem apresentadas aos políticos, que são esperados a transformá-las em ações concretas.
3. Diálogo político
A terceira etapa consiste no diálogo político, que busca a formação de um consenso chamado “Pacto Social”. Todos os envolvidos devem colaborar para proteger esse pacto, fundamental para a estabilidade do país. A capacidade de diálogo e comprometimento é vista como crucial para a construção de um futuro pacífico.
4. Conferência internacional
Finalmente, a quarta etapa prevê uma conferência internacional para discutir e resolver questões pendentes que não foram abordadas em encontros anteriores, como os realizados em Washington e Doha. Este será um espaço para discutir as dificuldades remanescentes e encontrar soluções duradouras.
Desafios e a busca pela paz
Apesar do desejo de paz, a implementação deste roteiro enfrenta desafios significativos, principalmente a vontade política. Nshole enfatiza que é crucial que todas as partes interessadas se unam em busca de um objetivo comum: “Sinceridade de cada parte em olhar na mesma direção é necessária”, afirma. As preocupações sobre a situação no terreno, especialmente no leste do país, também são palpáveis. A escalada de combates nas últimas semanas tem gerado incertezas sobre a eficácia das iniciativas de paz propostas.
Um desejo coletivo por mudança
A esperança de um futuro melhor é palpável entre os líderes religiosos e a população. “Estamos preocupados com a situação atual, mas temos fé de que os políticos agirão de boa-fé para implementar este plano o mais rápido possível”, conclui Nshole. A resposta positiva e cooperativa das diversas confissões religiosas representa um passo significativo em direção a um diálogo construtivo, que pode, finalmente, trazer a paz tão esperada para a República Democrática do Congo.