Uma pesquisa recente revelou que mais da metade dos moradores de São Paulo precisou encontrar atividades extras para complementar sua renda nos últimos 12 meses. O estudo intitulado “Viver nas Cidades: Desigualdades 2025”, realizado em parceria do Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) com a Ipsos-Ipec e a Fundação Grupo Volkswagen, aponta que 53% dos paulistanos se dedicaram a trabalhos paralelos, como faxinas, serviços de manutenção, revenda de produtos ou entregas via aplicativos.
A estabilidade da renda em meio à crise
Os dados também revelam uma situação ambígua sobre a renda na capital paulista. Apesar de 41% dos entrevistados afirmarem que sua situação financeira se manteve estável, 34% reportaram uma diminuição em seus salários no último ano. Somente 17% dos participantes da pesquisa garantiram ter visto um aumento em seus ganhos.
Foram ouvidas 3.500 pessoas com acesso à internet em 10 capitais brasileiras, com 700 delas localizadas em São Paulo. A pesquisa foi realizada com um nível de confiança de 95% e uma margem de erro de 2 pontos percentuais para a amostra total. Quando analisados os resultados por capital, essa margem pode variar de 4 a 6 pontos percentuais.
Alimentação: um peso no orçamento
A alimentação foi identificada como a principal preocupação financeira das famílias paulistanas, com impressionantes 82% dos entrevistados apontando essa categoria como a de maior peso no orçamento. Moradia (57%) e saúde (52%) vêm em seguida nas preocupações financeiras dos moradores. A pesquisa ainda destacou que o consumo de carnes se tornou um indicador importante da situação econômica das famílias, afetando diretamente a dieta da população.
De acordo com os dados, 39% dos paulistanos diminuíram seu consumo de carne, enquanto 25% aumentaram a compra de ovos, uma alternativa de proteína mais acessível. Essa mudança de hábitos alimentares reflete a necessidade de adaptação à nova realidade financeira enfrentada por boa parte da população.
Aumenta a percepção da pobreza
Outro dado alarmante da pesquisa é a crescente percepção da pobreza entre os moradores da cidade. Sete em cada dez paulistanos (71%) relataram um aumento no número de pessoas vivendo em situação de fome e pobreza, registrando o índice mais alto entre as capitais analisadas na pesquisa. Esta percepção é ainda mais preocupante levando em consideração o fato de que muitos afirmam que suas rendas estão estáveis ou até em crescimento.
Panorama nacional e desigualdades persistentes
No contexto geral das dez capitais analisadas, a pesquisa revelou que 56% da população precisou recorrer a atividades extras para complementar a renda. Apenas 57% dos entrevistados afirmaram que sua renda aumentou ou se manteve estável no último ano. As cidades de Manaus, Belém e Fortaleza se destacaram com as maiores proporções de pessoas que buscaram trabalhos paralelos.
O estudo destaca que a alimentação continua sendo o item que mais pesa no orçamento de todo o país (84%), seguido por saúde (57%) e moradia (55%). De acordo com Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis, os resultados expõem uma contradição nas capitais brasileiras: “Enquanto uma parcela significativa da população informa que a renda aumentou ou se manteve estável, muitos também relatam um crescimento da fome e da pobreza em suas cidades. Isso indica que ainda temos um longo caminho a percorrer para lidar com as desigualdades nas maiores metrópoles do Brasil”, conclui o pesquisador.
A pesquisa foi divulgada na última quinta-feira (28) durante a Semana de Combate às Desigualdades em Brasília, e servirá como base para o Observatório Nacional das Desigualdades, que compilará 42 indicadores em nove áreas.
Para mais informações, você pode acessar o link da pesquisa.