A discussão sobre a desidratação do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil mensais está pautada por interesses políticos, embora integrantes da oposição e do Centrão tenham utilizado argumentos técnicos para defender suas posições, segundo análises recentes. O debate ganha contornos eleitorais, com o horizonte de 2026 influenciando negociações e estratégias no Congresso.
Contexto político e estratégias eleitorais
Por trás de argumentos como necessidade de corte de gastos e prejuízo a setores específicos, está a disputa pela preferência do eleitorado em torno do projeto, que foi aprovado na comissão especial em julho, durante o auge do discurso de justiça social do governo federal. Na ocasião, o documento aprovado manteve a proposta do Ministério da Fazenda, prevendo um IR mínimo de 10% para rendas acima de R$ 1,2 milhão, com algumas exceções.
Segundo fontes próximas ao Congresso, a verdadeira motivação de parte dos parlamentares do Centrão mais alinhados à oposição é que aprovar a ampliação do IR sob os termos atuais seria uma forma de beneficiar o governo, além de representar uma vitória popular. Muitos integrantes acreditam que medidas nesse sentido podem favorecer a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2026, enquanto tentam consolidar um adversário forte ao petista.
Conflitos e interesses em jogo no cenário político brasileiro
Entre os motes do jogo político estão ainda as insatisfações relacionadas às emendas parlamentares, que enfrentam dificuldades de pagamento este ano. Como revelou o GLOBO, até o momento, nenhuma das R$ 7,3 bilhões reservados para as emendas Pix foi liberada, por conta de novas exigências do ministro do STF, Flávio Dino.
Além disso, há uma tentativa de vincular o tema à votação da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro de 2023, o que movimenta ainda mais o cenário político polarizado. Enquanto isso, a avaliação da equipe econômica do governo é de que o projeto de ampliação do IR não passará sem que haja uma compensação fiscal, dado o impacto estimado de R$ 25 bilhões no primeiro ano.
Perspectivas de articulação e aprovação futura
O governo pretende agora estabelecer uma articulação mais precisa entre Câmara e Senado para aprovar a proposta, buscando alinhavar um entendimento que concilie interesses fiscais e políticos. A tarefa, segundo fontes do Legislativo, é manter o foco no principal projeto do governo para o ano e consolidar seu papel como trunfo eleitoral de Lula na temporada que se avizinha.
A disputa, portanto, transcende as questões fiscais, sendo marcada por uma estratégia de fortalecimento político, aproximações e disputas pelo convencimento do eleitor, num ano que promete ser decisivo para o futuro do governo federal.