Nesta segunda-feira (25), Donald Trump anunciou a demissão de Lisa Cook do Conselho de Governadores do Federal Reserve (Fed), uma ação sem precedentes na história recente da instituição. A medida reforça o crescente embate do ex-presidente contra a autonomia do banco central, considerada fundamental para a estabilidade econômica dos Estados Unidos.
Questionamentos sobre legalidade e impacto institucional
Cook, uma das sete integrantes do conselho, foi afastada sob alegações de irregularidades. No entanto, ela contesta a legalidade de sua demissão, já que, segundo a estrutura jurídica do Fed, o presidente dos EUA não pode dispensar membros do conselho sem demonstração de falta grave. Essa tentativa de remoção sem o devido processo jurídico levanta preocupações acerca da integridade do banco central e de sua independência.
Especialistas apontam que a ação do governo pode enfraquecer a credibilidade do Fed, que tradicionalmente dispõe de mandatos longos e é protegido de pressões políticas diretas para garantir decisões técnicas centradas em metas de inflação e pleno emprego.
Contexto e funcionamento do Federal Reserve
O Fed é composto por três principais entidades: o Conselho de Governadores, os Bancos de Reserva Regionais e o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC). O Conselho, sediado em Washington, conta com sete membros indicados pelo presidente e aprovados pelo Senado, e é responsável por supervisionar o sistema, que busca manter o equilíbrio entre autonomia técnica e responsabilidade perante o Congresso.
O sistema foi criado precisamente para evitar que interesses políticos influenciem diretamente as decisões de política monetária, preservando sua credibilidade global e estabilidade econômica.
Consequências para a credibilidade do banco central
Especialistas advertem que a tentativa de Trump de interferir na composição do Conselho do Fed representa um risco à sua credibilidade. “A independência do Fed é essencial para a estabilidade financeira mundial. Interferências políticas podem desestabilizar os mercados, especialmente em um momento de vulnerabilidade econômica global”, alerta Paul Donovan, economista-chefe do UBS.
Segundo analistas, atos como esse podem abrir precedentes perigosos para futuras ingerências políticas no processo decisório do banco central, prejudicando a capacidade do Fed de conduzir a política econômica de forma técnica e imparcial.
Perspectivas e próximos passos
Com a demissão de Lisa Cook, aumentam as tensões entre o governo e o Federal Reserve, que enfrenta o desafio de manter sua autonomia diante de pressões políticas. A expectativa é que o Fed continue atuando com foco em suas metas de estabilidade de preços e pleno emprego, mesmo em um cenário de maior interferência política.
O governo anunciou que publicará nos próximos dias uma explicação oficial acerca do processo de desligamento, enquanto o mercado acompanha de perto os desdobramentos dessa crise institucional que pode marcar uma mudança na governança do banco central mais poderoso do mundo.