A sucessão na Ouvidoria-Geral da Petrobras deflagrou uma disputa acirrada entre a CEO da estatal, Magda Chambriard, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Nos bastidores da companhia, Silveira trabalha ativamente para a indicação de Cristina Bueno Camatta, sua assessora no ministério e presidente do Conselho Fiscal da petroleira. Por outro lado, Magda é a favor da indicação de Renata Citriniti, atual gerente executiva de conformidade.
Suspense na escolha da nova ouvidora-geral
As candidatas – Cristina, Renata e a diretora jurídica Paula Porto – farão parte da lista tríplice que será encaminhada ao Conselho de Administração da Petrobras. O conselho deverá escolher uma delas na próxima sexta-feira (29). O cargo de ouvidor-geral é considerado chave por comandar o canal de compliance e gerenciar denúncias anônimas da companhia. Além disso, a área também é responsável por processar consultas e pedidos de autorização relativos à Lei de Conflito de Interesses, registrar processos administrativos da Lei Anticorrupção e monitorar o cumprimento da Lei de Acesso à Informação (LAI) e da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
O salário anual para o cargo gira em torno de R$ 1,6 milhão, incluindo bônus, o que torna a posição ainda mais atraente e competitiva.
Interesses e alianças em jogo
Como delegada da Polícia Federal e formada em Direito, Cristina é parte do grupo interno de aliados do ministro, conhecidos como “silveirinhas”. Silveira, que deseja ampliar seu poder sobre a estatal, vê em Camatta uma oportunidade de fortalecer suas bases dentro da Petrobras, enquanto Magda defende a escolha de uma profissional com a qual tem afinidade e confiança.
As tensões entre Magda Chambriard e Silveira são evidentes, especialmente nas críticas da CEO ao modelo de integridade adotado no departamento de compliance, que inclui a gestão das denúncias anônimas, muitas das quais foram recebidas durante sua administração.
O futuro da Ouvidoria-Geral
O cargo de ouvidor-geral está vago desde o ano passado, após o término do mandato de Cristiano Andrade, indicado em 2021, e até lá a Ouvidoria é comandada interinamente por Henrique Ximenes, um servidor de carreira. Esta situação temporária revela a necessidade urgente de uma solução, dada a importância do cargo no contexto da operação da estatal.
Controvérsias e alegações de interferência
A questão da indicação de Camatta também é envolta em polêmica. Compete à Petrobras decidir se sua capacidade e experiência são adequadas para o cargo, e há resistência entre alguns membros do Conselho de Administração. Em abril, um comunicado da estatal foi publicado, mencionando que Camatta já havia sido citada em um processo popular que questionava sua nomeação para a função de conselheira, interpretada como uma interferência política.
Este processo foi protocolado pelo deputado estadual Leo Siqueira, que argumenta que a escolha de Camatta reflete a influência de Silveira sobre a Petrobras. A empresa, por sua vez, defende que situações semelhantes já foram julgadas e decididas favoravelmente em outros casos, buscando justificar a normalidade da situação.
Desfecho e implicações políticas
A escolha para a Ouvidoria-Geral não só reflete a dinâmica interna da Petrobras, mas também ilustra os jogos políticos que ocorrem no governo. Caso a indicação de Cristina prevaleça, isso pode ser um sinal de que Silveira ainda conta com a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se tornou próximo do ministro ao longo do tempo.
Por outro lado, Magda Chambriard também mantém relações positivas com o Palácio do Planalto, o que torna a disputa ainda mais interessante. A intersecção de interesses pessoais e políticos torna esta uma situação complexa na qual os próximos dias prometem uma resolução tensa e, quem sabe, impactante para o futuro da Petrobras.
Num cenário onde a política se mistura com a gestão de uma das maiores estatais do país, a escolha da nova ouvidora pode abrir caminhos ou gerar obstáculos significativos que reverberarão na condução da companhia e na relação do governo com seus aliados.