Em um cenário arrepiante, a loja Curiosities from the 5th Corner, localizada em Essex, está atraindo atenção por suas práticas controversas. Henry Scragg, proprietário do estabelecimento, recentemente revelou em uma entrevista no YouTube que aceita qualquer tipo de ‘materiais humanos’, desde que sejam ‘eticamente obtidos’. A loja é descrita como um verdadeiro museu do macabro, repleto de crânios humanos, partes mumificadas e até uma assinatura mensal de crânios, o que suscita questões morais e legais sobre a venda de restos humanos.
O perfil de um novo mercado
A loja de Scragg retrata uma nova era de consumo, onde restos humanos se tornaram uma mercadoria. Desde crânios e esqueletos místicos até acessórios feitos de pele humana, a oferta é vastamente diversificada. Com a popularização das redes sociais, a venda desses itens se tornou mais comum, mas os especialistas alertam que essa exposição representa um risco crescente de práticas ilegais, como o ‘roubo de corpos’ e a profanação de sepulturas.
Dame Sue Black, renomada cientista forense do Reino Unido, é uma das vozes que clamam por um endurecimento nas leis que regulamentam esse nicho. Ela ressalta que, apesar de não haver ilegalidade explícita em algumas das vendas, a falta de regulamentação clara torna a situação perigosa.
A questão da propriedade e da ética
Os especialistas observam que a legislação atual é deficiente. O Reino Unido, embora tenha leis que proíbam a profanação de sepulturas, não considera restos humanos como propriedade, dificultando a aplicação de penas para quem detém ou vende restos desenterrados ilegalmente. Isso levanta questões sobre o tratamento ético de corpos e partes humanas, que são vistas como algo a ser protegido mesmo após a morte.
O Dr. Trish Biers, da Universidade de Cambridge, coordena uma força-tarefa que investiga a crescente comercialização de restos humanos. Nos últimos anos, ela relata ter bloqueado mais de 200 vendas suspeitas, incluindo de leiloeiros e vendedores online. A pressão para regularizar essa prática se torna mais urgente à medida que novos vendedores surgem, colocando em xeque a moralidade do que se considera aceitável no comércio.
A voz de quem coleta
Henry Scragg justifica sua atividade alegando que a venda de crânios e outras partes humanas pode ser mais respeitosa do que simplesmente enterrá-los. A retórica de que ‘alguém que se importa com o objeto’ pode cuidar melhor dele do que deixá-lo em um cemitério é uma tentativa de legitimar sua prática. No entanto, essa justificativa não é aceita por muitos especialistas, que argumentam que a exploração de restos humanos é uma violação dos direitos dos indivíduos, mesmo após a morte.
Além disso, autoridade acadêmica como a Professora Imogen Jones, da Universidade de Leeds, aponta para a falta de um enquadramento jurídico que possa traduzir o sentimento geral de que corpos e partes humanas devem ser tratados com dignidade e respeito. Os casos de abusos em necrotérios, como o de David Fuller, demonstram que há uma desconexão significativa entre a expectativa pública e a resposta legal.
Pontos de vista conflitantes
Enquanto alguns colecionadores argumentam que a venda de restos humanos pode servir à pesquisa e à arte, a verdadeira ética dessa prática é colocada em questão, especialmente com o aumento da comercialização de crânios que podem ter sido obtidos de forma ilegítima. Há um descontentamento crescente em relação a esse mercado, como o expresso por Mattaeus Ball, um comerciante que decidiu encerrar suas atividades na venda de restos humanos.
O apelo por mudanças nas leis está crescendo, com vozes como a de Paul Boateng, que se reúne com a secretária de Cultura, Lisa Nandy, para articular uma resposta mais adequada. Ele enfatiza que o comércio de restos dos povos indígenas é especialmente ofensivo e deve ser abordado com seriedade pelas autoridades.
No contexto atual, onde a legalidade e a ética da venda de restos humanos continuam a ser debatidas, a sociedade deve refletir sobre os limites do colecionismo e os direitos dos mortos. A expectativa é que, com o aumento da conscientização, venham mudanças significativas nas leis que regem a venda e a posse de restos humanos, promovendo um comércio mais ético e respeitoso em relação aos falecidos.