Neste sábado, Papa Leo XIV convidou parlamentares católicos a se inspirarem na obra de Santo Agostinho, ‘A Cidade de Deus’, para enfrentar a atualidade política global, alertando contra reduzir o bem-estar humano à riqueza ou ao conforto do consumo.
Apelo à ética e à dignidade no serviço público
Falando na Rede Internacional de Legisladores Católicos, no Palácio Apostólico, o Papa destacou a importância de que o poder seja orientado pela consciência e que a lei sirva à dignidade humana. “O florescimento humano autêntico é observado quando as pessoas vivem com virtude, em comunidades saudáveis, valorizando não apenas seus bens, mas quem são como filhos de Deus”, afirmou (fonte).
A Santa Sé ressaltou que esses princípios garantem liberdade de buscar a verdade, praticar a adoração e manter a paz na família, além de promover harmonia com a criação e solidariedade entre classes sociais e nações.
O legado de Santo Agostinho para os líderes atuais
A Rede, criada em 2010 pelo Cardeal Christoph Schönborn e o par britânico David Alton, reúne parlamentares que debatem temas como liberdade religiosa, relação Igreja-Estado, proteção à vida e a influência do pensamento católico na política. Este ano, o encontro aconteceu sob o tema “A Nova Ordem Mundial: Grandes Potências, Domínios Corporativos e o Futuro do Florescimento Humano”.

O pontífice reforçou que Santo Agostinho, que escreveu ‘A Cidade de Deus’ em meio à desintegração do Império Romano, oferece uma visão de esperança e de sentido que permanece relevante. “Ele nos ensina que há duas ‘cidades’ na história humana: a Cidade do Homem, fundada no orgulho e amor próprio, e a Cidade de Deus, baseada no amor a Deus, justiça, caridade e humildade”, explicou.
Construindo pontes entre as duas cidades
Leo XIV encorajou os legisladores a atuarem como “construtores de pontes” entre esses dois espaços, defendendo que structurar a sociedade com base no amor de Deus e do próximo é fundamental para o progresso verdadeiro. “Augusto incentivou os cristãos a infundir a sociedade terrestre com os valores do reino de Deus, orientando a história para sua realização final em Deus”, afirmou.
Ele destacou que a escolha do amor, seja egoísta ou de Deus, determinará o futuro do florescimento humano. “O amor que orienta a sociedade é aquele que promove a justiça, a humildade, a solidariedade e o respeito à criação”, acrescentou.
Desafios culturais e o conceito de progresso
O Papa também questionou as ideias modernas de progresso, muitas vezes reduzidas à riqueza material ou ao prazer individual sem limites. “Um estilo de vida voltado apenas à conveniência tecnológica e ao consumo não é suficiente para o verdadeiro florescimento humano”, afirmou.
Segundo ele, o desenvolvimento integral — que abrange aspectos físicos, sociais, morais e espirituais — deve ser a base para uma sociedade mais justa e harmoniosa, ancorada na lei natural e nos ensinamentos do Evangelho. “A verdade profunda sobre o homem foi escrita por Deus em seu coração e iluminada pelo Evangelho de Cristo”, finalizou.
Compromisso pastoral e esperança
Antes de despedir-se, o Papa Leo XIV agradeceu aos legisladores pelo esforço de levar a mensagem do Evangelho ao espaço público. “Rezo por vocês, suas famílias e pelo bem comum da humanidade, para que o Senhor Jesus, Príncipe da Paz, os guie e abençoe na busca pelo verdadeiro florescimento da família humana”, concluiu.