O governo federal revelou nesta semana as condições do Plano Brasil Soberano, que oferecerá até R$ 40 bilhões em linhas de crédito para exportadores brasileiros prejudicados pelo tarifão de 50% imposto por Donald Trump. As linhas, que envolvem recursos do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) e do BNDES, visam ajudar na recuperação do setor e na busca por novos mercados.
Detalhes do plano de crédito para exportadores
Segundo o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, as linhas de financiamento totalizam R$ 30 bilhões do FGE e R$ 10 bilhões de recursos próprios do banco. Os recursos poderão ser utilizados para capital de giro, investimentos em máquinas e abertura de novos mercados, beneficiando empresas que tiveram perdas superiores a 5% na exportação, devido às tarifas de Trump.
Para Mercadante, essa medida busca oferecer suporte às empresas afetadas, especialmente às pequenas e médias, que representam grande parte do setor exportador brasileiro. “Estamos oferecendo crédito para apoiar essas empresas na recuperação”, afirmou, destacando que o período de análise será de julho de 2024 a junho de 2025.
Tipos de linhas de crédito e prioridades
A prioridade será dada às empresas que perderam mais de 5% de seu faturamento devido às restrições comerciais, com o objetivo de evitar que fiquem para trás. Entre as modalidades de crédito, estão o Capital de Giro, com taxas de juros de até 0,82% ao mês, e condições de até cinco anos de prazo, incluindo um ano de carência.
Empresas com perdas superiores a 20% podem acessar linhas adicionais, como a Giro Diversificação, para abertura de novos mercados, com limites de até R$ 35 milhões para MPMEs e R$ 200 milhões para grandes companhias, e taxas de até 0,66% ao mês. Há ainda linhas específicas para compra de máquinas (Bens de Capital) e inovação tecnológica (Investimento).
O impacto e a expectativa do setor
O setor calçadista, por exemplo, enfrenta dificuldades com a tarifa americana de 50%, que afeta empresas como a PG4 Galleria, de Franca (SP). O sócio-diretor Giuliano Spinelli afirmou que, se a tarifa não for revista, a demissão de até 20% dos 150 funcionários será inevitável no primeiro semestre de 2026. A empresa exporta 25% de sua produção para os EUA.
Para Spinelli, o plano de socorro é positivo, mas não suficiente para solucionar a crise do setor. “Precisamos de medidas de proteção ao emprego, incluindo a redução da tarifa de 50%,” afirmou. Outros empresários e especialistas também alertam para a necessidade de ações adicionais, especialmente na área de incentivos à exportação, como o retorno de benefícios fiscais do Reintegra, que reduz custos das empresas.
Próximos passos e desafios
Segundo Mercadante, a expectativa é que as empresas comecem a procurar os bancos a partir de setembro, e as primeiras aprovações devam ocorrer em meados de setembro, com liberação dos recursos até dezembro. O banco também anunciou duas linhas próprias de crédito, totalizando R$ 10 bilhões, acessíveis independentemente do percentual de tarifa incidente.
O economista Sergio Vale, da MB Associados, alertou para o risco de uso excessivo dos benefícios, o que pode ampliar o custo fiscal do pacote. Para ele, é importante estabelecer limites claros para evitar uma extensão indefinida dos financiamentos, especialmente em ano eleitoral.
Com a implementação dessas medidas, o governo espera fortalecer a recuperação econômica e evitar que o impacto do tarifão de Trump afete de forma irreversível o setor exportador brasileiro.