No discurso anual no simpósio de Jackson Hole, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizou a possibilidade de redução da taxa de juros na reunião de setembro, considerando o atual cenário econômico dos Estados Unidos. Os juros permanecem na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano, mas as declarações do presidente abriram espaço para uma mudança na política monetária.
Impacto das tarifas na inflação e o cenário macroeconômico
Powell destacou que, embora o mercado de trabalho esteja em um equilíbrio delicado, esse equilíbrio é resultado de uma desaceleração acentuada na oferta e na demanda por trabalhadores. Segundo ele, essa situação pode aumentar rapidamente os riscos de queda no emprego ou, alternativamente, estimular uma dinâmica inflacionária mais prolongada devido às tarifas impostas durante a pandemia. Donald Trump foi citado pelo presidente do Fed como responsável por esses efeitos inflacionários.
Perspectivas do mercado e expectativas para juros
De acordo com Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, o discurso de Powell trouxe um otimismo renovado ao mercado, que elevou a probabilidade de um corte de juros na próxima reunião de setembro de 91%, contra 75% anteriormente. Para ela, essa expectativa reforça o consenso de que o Fed poderá adotar uma postura mais estimulativa em breve.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, avalia que a fala de Powell indica a possibilidade de redução já em setembro, especialmente devido à taxa de desemprego que, na sua visão, está se afastando do nível de equilíbrio. “O impacto das tarifas continua sendo uma preocupação, mas o cenário macroeconômico favorece uma flexibilização monetária”, afirma Cruz.
Riscos e incertezas econômicas
Apesar do otimismo, Powell alertou que o ambiente macroeconômico permanece desafiador, com mudanças em políticas de imigração e comerciais que dificultam a previsão de efeitos de curto prazo. A interpretação dos mercados é de que o Fed ainda trata o impacto das tarifas como pontual, sem previsão de pressionar as expectativas de inflação de forma duradoura.
O relatório do Santander aponta que o repasse dos custos adicionais das tarifas às operações das empresas ainda pode se materializar em alta de preços ao consumidor nos próximos meses. Tales Barros, líder de renda variável da W1 Capital, ressaltou que a expectativa de inflação de longo prazo começa a se estabilizar, mas o impacto das tarifas continua sendo um fator a ser monitorado de perto.
Próximos passos e cenários futuros
Com três reuniões restantes este ano, o mercado aposta que o Fed poderá fazer pelo menos um corte de juros em 2025. A maioria dos dirigentes do banco central tende a avaliar que o impacto das tarifas ainda é incerto e exige atenção contínua. A próxima reunião do Fed, agendada para setembro, será decisiva para confirmar ou não essa expectativa de flexibilização.