Brasil, 21 de agosto de 2025
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O impacto das emoções nas decisões eleitorais brasileiras

A pesquisa qualitativa revela os sentimentos que moldam a política e as eleições no Brasil.

No Brasil, as eleições sempre foram um reflexo do intricado relacionamento entre política e emoções. O famoso escritor Jorge Luis Borges capturou essa dualidade com a frase: “Não nos une o amor, e sim o espanto, será por isso que a quero tanto…” Essa citação não poderia ser mais pertinente ao descrever o sentimento que muitos brasileiros têm em relação aos seus políticos. Em um contexto onde 66% da população ainda se mostra indecisa sobre em quem votar para presidente em 2026, como as emoções moldam essas decisões?

A política como domínio emocional

A política é, por natureza, o reino das emoções. Em vez de necessariamente ser governada por uma lógica racional, as decisões dos eleitores são frequentemente influenciadas por sentimentos complexos. As pesquisas quantitativas, que pretendem capturar a lógica por trás do comportamento eleitoral, muitas vezes apenas arranham a superfície do que realmente está em jogo. O que essas análises frequentemente ignoram são as emoções que norteiam as percepções dos eleitores sobre os políticos e os acontecimentos públicos.

Em um ambiente onde a linguagem é limitada, expressing sentimentos profundos se torna um desafio. A comunicação muitas vezes pode falhar em transmitir o que se sente verdadeiramente. O desafio, portanto, é entender o que está por trás das palavras e comportamentos dos eleitores. Nesse cenário, entra em cena o “Plaza Pública”, um projeto destinado a explorar as emoções que moldam a política brasileira por meio de técnicas qualitativas.

Emoções e suas influências nas decisões de voto

Com mais de 30 anos de experiência em pesquisa qualitativa, a abordagem do Plaza Pública se concentra em compreender as emoções que não são facilmente verbalizadas. Ao mapear sentimentos, a pesquisa busca entender como eles evoluem em relação à avaliação do governo e à intenção de voto. Isso levanta questões fundamentais: Existe fadiga entre os atuais líderes? Como as emoções mais complexas impactam as avaliações? Essas questões são essenciais para entender a dinâmica do comportamento eleitoral.

Desafios da polarização política

A retórica política frequentemente apela para as emoções, criando divisões e engajamentos apaixonados. Entretanto, um dos maiores desafios é alcançar aqueles eleitores indecisos que, por suas experiências, se sentem presos na polarização. Esses indivíduos muitas vezes não se sentem representados por nenhum dos lados e, como resultado, enfrentam uma espécie de impasse político onde não conseguem dar o próximo passo.

Esses indecisos reconhecem que a política pode ser uma ferramenta de transformação, mas encontram desencanto na atual situação. A ausência de certezas sobre quem pode liderar essa mudança, combinada com a falta de conexão emocional com os candidatos, resulta em um cenário de incertezas. Muitos eleitores não sentem uma paixão genuína por nenhum candidato, tornando a concorrência futura ainda mais complexa.

Uma cartografia das emoções políticas

A pesquisa mais recente realizada pelo Plaza Pública apresenta uma análise emocional que se articula ao longo de quatro territórios principais: Esperança, Euforia, Decepção e Aversão. Esses territórios são essenciais para entender os sentimentos que os eleitores têm em relação aos candidatos. Por exemplo, o ex-presidente Lula, como esperado, exibe um forte apelo emocional. Em contrapartida, Jair Bolsonaro parece navegar em águas de aversão, enquanto outros candidatos como Tarcísio e Michelle Bolsonaro apresentam variações em seus potenciais afetivos.

O que esperar das emoções eleitorais em 2026?

O futuro eleitoral apresenta desafios e oportunidades, não apenas para os candidatos, mas também para o eleitorado. Será que surgirá uma nova alternativa que possa capturar sentimentos positivos e engajar aqueles indecisos, ou continuaremos a testemunhar o mesmo ciclo de amor e espanto? A chave será a capacidade dos líderes de intrigar e conectar-se emocionalmente com seus eleitores. O que torna a política um campo emocionante e, às vezes, aterrorizante é exatamente essa dinâmica emocional que a estrutura e a transforma.

À medida que nos aproximamos de 2026, a importância de compreender essas emoções não pode ser subestimada. As decisões políticas não são apenas lógicas; elas são profundamente humanas e enraizadas em sentimentos complexos. O desafio reside em identificar, comunicar e, acima de tudo, conectar-se emocionalmente com os eleitores, transformando o desencanto em esperança e os votos em uma nova direção política.

* É mestre em Análise da Opinião Pública e psicólogo, trabalha com pesquisa qualitativa há mais de 30 anos. É diretor do Projeto Plaza Pública, barômetro que mede qualitativamente a agenda do país de maneira periódica.

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