Goiânia – Em um desfecho aguardado pela sociedade, dois policiais militares foram condenados e cinco absolvidos pela morte de quatro homens durante uma conturbada ação policial em Cavalcante, na Chapada do Veadeiros. O julgamento, que começou na última terça-feira (19) e se estendeu até a madrugada desta quinta-feira (21), resultou em uma série de decisões que agora podem ser contestadas em recurso.
Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), o crime ocorreu em janeiro de 2022, quando as vítimas foram brutalmente executadas com 58 tiros, o que gerou grande comoção e indignação na comunidade local. O caso chamou atenção não apenas pela gravidade das mortes, mas também pelas circunstâncias que envolveram a operação policial, que ficou a cargo do juiz Lourival Machado da Costa, da 2ª Vara dos Crimes Dolosos contra a Vida.
O caso e suas repercussões
O Ministério Público denunciou os sargentos Aguimar Prado de Morais e Mivaldo José Toledo, além do cabo Jean Roberto Carneiro dos Santos e os soldados Luís César Mascarenhas Rodrigues, Ítallo Vinícius Rodrigues de Almeida, Welborney Kristiano Lopes dos Santos e Eustáquio Henrique do Nascimento, por homicídio qualificado e fraude processual. Uma grande pressão da sociedade civil organizada tornou-se um elemento crucial em todo o processo.
Relembre o que aconteceu
- O crime ocorreu no dia 20 de janeiro de 2022, quando a PM foi ao local após denúncia de plantação de maconha.
- Os policiais afirmaram que foram recebidos a tiros, obrigando-os a revidar com quase 60 disparos.
- Além das quatro vítimas fatais, havia outras três pessoas no local que conseguiram escapar.
- Dias depois, ficou comprovado que a plantação apenas recebeu a devida identificação após a incineração significativa de provas no momento em que a Polícia Civil estava a caminho.
Contextualização das vítimas
As vítimas eram todos homens da comunidade local, com histórias de vida que revelam a tragédia por trás do ocorrido:
- Salviano Souza da Conceição: 63 anos, trabalhador rural e guia turístico da região.
- Ozanir Batista da Silva: 47 anos, conhecido como Jacaré, estava desempregado, mas foi ao local ajudar em uma colheita.
- Antônio da Cunha Fernandes: 35 anos, quilombola Kalunga, também desempregado e trabalhador rural.
- Alan Pereira Soares: 27 anos, era pai de uma bebê e esperava outro filho, vivia de trabalhos informais.
Após a tragédia, mais de 100 entidades de direitos humanos e movimentos sociais assinaram uma nota de repúdio à ação da polícia, buscando justiça e denunciando a brutalidade da operação. O documento enfatizou que as vítimas eram conhecidas pela comunidade como pessoas pacíficas que não possuíam antecedentes criminosos.
Decisões e consequências
O julgamento culminou com a condenação do sargento Aguimar Prado de Morais a 13 anos e 9 meses de prisão em regime fechado por homicídio qualificado. O soldado Luís César Mascarenhas Rodrigues foi sentenciado a 6 anos em regime semiaberto por sua participação na morte de Salviano Souza.
O juiz destacou que a operação foi realizada sem o devido planejamento e com informações distorcidas, resultando em uma ação criminosa. A defesa de Aguimar, que confessou o crime, levou à redução de sua pena. Mendes, em sua argumentação, apontou que o comandante da operação agiu de forma desproporcional e inadequada.
Os outros cinco réus foram absolvidos, após o júri apreciar que não havia provas suficientes para condená-los pelas mortes de Ozanir e Alan. Todos os policiais respondem ao processo em liberdade, até o julgamento dos recursos.
Este caso expõe a complexa relação entre a população e as forças de segurança no Brasil, evidenciando a necessidade de um policiamento mais humano, respeito às leis e proteção dos direitos civis.