A recente derrota do governo ao não conseguir emplacar o comando da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS expôs falhas significativas na articulação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso Nacional. O que deveria ser uma vitória para a base governista se transformou em uma verdadeira crise, culminando em uma troca acalorada de acusações entre parlamentares afiliados ao governo e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.
Erro na articulação política
A avaliação de diversos líderes partidários é clara: a falha foi, em grande parte, atribuída à falta de atenção de Gleisi Hoffmann em procurar os parlamentares para garantir os votos necessários para a comissão. Para muitos, a crise poderia ter sido evitada se houvesse um contato mínimo entre o Palácio do Planalto e os parlamentares envolvidos. A ausência dessa comunicação resultou na eleição de opositores para os cargos mais relevantes da CPI, um fato que tem o potencial de desgastar ainda mais a imagem do governo.
De acordo com integrantes dos partidos aliados, Gleisi não se preocupou em buscar apoio para assegurar que a presidência e a relatoria da comissão fossem ocupadas por deputados e senadores aliados. O governo demonstrou desconhecimento em relação à ordem de prioridade dos partidos nas suplências, o que agravou ainda mais a situação. A CPI, que promete investigar descontos indevidos em aposentadorias do INSS, agora poderá ficar nas mãos da oposição, caso este desgaste não seja contornado rapidamente.
Consequências da derrota
O governo se viu incapaz de confirmar um acordo com a liderança do Congresso para os dois postos chave da CPI. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) foram eleitos para a presidência e relatoria, respectivamente, ambos representantes da oposição. De acordo com o que havia sido previamente acordado com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o comando da CPI deveria ter ficado com o senador Omar Aziz (PSD-BA) e o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO).
Pouco após a derrota, Gleisi convocou uma reunião com os parlamentares da base. Um dos líderes da base, o deputado Isnaldo Bulhões (AL), enfatizou que o erro partiu não apenas da ministra, mas da articulação política do governo como um todo. Ele pontuou que, em situações de votação, seria essencial manter um contato mais próximo e intenso com os parlamentares, como forma de garantir a vitória nas votações.
A falta de experiência e estratégia
O deputado Elmar Nascimento (União-BA), que esteve envolvido no acordo para a escolha do relator da CPI, também criticou a falta de experiência na articulação política, ressaltando que Gleisi deveria ter antecipado as dificuldades. Para Nascimento, a ausência de uma abordagem mais proativa poderia ter sido decisiva para garantir os votos necessários, o que teria evitado o insucesso enfrentado pelo governo.
O relator da CPI, Alfredo Gaspar, foi indicado em meio a uma negociação complexa. Inicialmente, o PL tinha a intenção de colocar o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) na relatoria, mas essa escolha não foi aprovada pelos partidos União Brasil e PP, que temiam que isso representasse uma desmoralização para a presidência da Câmara.
A crítica à articulação política do governo
A derrota na CPI não é um evento isolado. Desde que Gleisi assumiu o cargo, críticas apontam para a falta de diálogo com partidos não alinhados à esquerda. O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), chegou a declarar que a articulação do governo “é zero”, evidenciando uma insatisfação geral em relação à condução das relações políticas.
Gleisi, por sua vez, atribuiu a culpa da falha no comando da CPI à própria base do governo no Congresso, afirmando que erros na mobilização foram a causa do resultado negativo. Ela destacou a importância de continuar trabalhando para corrigir as falhas e evitar que a CPI seja utilizada para fins políticos, uma vez que o governo já está atuando para garantir o ressarcimento de aposentados.
A crise que envolve a CPI do INSS é apenas uma parte de um quadro maior de desafios enfrentados pelo governo Lula. Além da dificuldade em manter a coesão da base aliada, outras falhas na articulação política já foram identificadas, como a derrubada de decretos e o avanço de projetos que podem ameaçar a estabilidade do governo.
Com isso, a situação atual não apenas expõe falhas na articulação política, mas também coloca em evidência a necessidade urgente de uma reavaliação nas estratégias adotadas pela liderança do governo no Congresso. A capacidade de diálogo e articulação será crucial para enfrentar os próximos desafios e evitar novas derrotas que possam impactar ainda mais a imagem do governo.