Em uma declaração impactante, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), atribuiu ao governo a responsabilidade pelo revés na instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) do INSS. Segundo Motta, a articulação política falhou, o que resultou em uma escolha de presidente e relator da comissão que não seguia o acordo anteriormente estabelecido.
A culpa pela derrota política
Motta enfatizou a falha na articulação política do governo em relação aos partidos aliados. Ele destacou que, em um momento crítico, a falta de um deputado de um partido da base aliada foi decisiva, pois seu substituto era de outro partido. “Teve esse ingrediente de estarmos todos no mesmo bloco e quando um deputado de um partido da base aliada falta, não necessariamente quem o substitui é um colega, é um deputado de outro partido que vota por ele e foi isso que aconteceu”, explicou.
A CPMI do INSS, que tem como objetivo investigar descontos indevidos nas aposentadorias, mobilizou as atenções do Palácio do Planalto, que não conseguiu garantir um acordo sólido para eleger líderes da comissão. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) foram escolhidos como presidente e relator, ambos da oposição, apesar das expectativas de que o senador Omar Aziz (PSD-BA) e o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) ocupassem esses cargos.
A repercussão da falha na articulação
Apesar de Motta ter participado de um acordo para a escolha do relator, ele se desvinculou da responsabilidade pela derrota, afirmando: “eu não sou líder do governo”. A instalação da CPI pegou os parlamentares da base de surpresa, e ele alegou não ter tido conhecimento prévio sobre a situação. “Conversei com vários líderes, tentando entender o que aconteceu, acho que pegou o pessoal de surpresa”, disse.
A CPI tem potencial para desgastar ainda mais a imagem do governo, uma vez que a crise envolvendo os descontos indevidos já resultou na demissão do presidente do PDT, Carlos Lupi, do Ministério da Previdência Social, e provocou a saída do PDT da base governista na Câmara. Essa perda de confiança pode ter repercussões graves nas articulações futuras do governo.
Pressões e tensões políticas
Além disso, o cenário político se complica com a pressão de parlamentares bolsonaristas que buscam alvos na esfera governamental. Um dos alvos é o Frei Chico, irmão do presidente Lula e vinculado ao Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), que é mencionado em um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) que investiga possíveis fraudes. Embora Frei Chico não seja alvo de investigação e o sindicato negue qualquer irregularidade, a pressão política pode intensificar a tensão entre os partidos.
Segundo Motta, ele tratou do tema da CPI em uma reunião com o presidente Lula, que já estava agendada antes da derrota na instalação da comissão. O presidente da Câmara revelou que o assunto abordado foi breve e não diretamente relacionado à CPI: “Ele só comentou o que aconteceu, não era esse o assunto.” Tal declaração reforça a ideia de que a CPI tomou os parlamentares de surpresa e que a articulação entre o governo e seus aliados precisa ser revista para evitar novas derrotas.
O futuro das investigações e o impacto no governo
A instalação da CPI do INSS abre um espaço importante para investigar as irregularidades em aposentadorias, que podem afetar diretamente a credibilidade do governo. A comissão agora vai reunir evidências e testemunhos sobre os descontos indevidos, e as repercussões não devem ser subestimadas. A expectativa é que a CPI possa trazer à luz questões relevantes, mas também que traga desgaste político ao governo, que precisa se reerguer rapidamente para manter a força na Câmara.
Por fim, o cenário político que se desenha é de incertezas e desafios. Com a oposição assertiva e a base governista dividida, será crucial para o governo reforçar as articulações políticas e garantir maior coesão entre os aliados se desejar enfrentar as investigações da CPI e futuras ações no legislativo.