O ex-pastor anglicano Chris Brain, de 68 anos, foi condenado por 17 acusações de assédio sexual envolvendo nove mulheres que faziam parte do seu movimento de culto, conhecido como Nine O’Clock Service (NOS), durante os anos 1980 e 1990. A decisão foi tomada após um julgamento que durou oito semanas no tribunal do Crown de Inner London, onde o jurado deliberou por 37 horas e meia antes de chegar ao veredito.
Details of the case: as acusações e o julgamento
Brain, fundador do NOS, originário de Wilmslow, Cheshire, criou um ambiente que atraiu centenas de seguidores para cultos no estilo rave em Sheffield. O movimento foi inicialmente aclamado por líderes da Igreja Anglicana, que viam nele uma história de sucesso por atrair grandes congregações jovens. No entanto, em 1995, o movimento desmoronou após várias denúncias de exploração sexual contra Brain. O caso ganhou destaque na mídia, mas apenas em 2021 as mulheres se apresentaram à polícia, o que resultou numa investigação criminal.
O procurador Tim Clark KC informou ao tribunal que Brain abusou de um número “estonteante” de mulheres enquanto liderava o NOS, de 1986 a 1995. Ele destacou que as vítimas não sempre podiam consentir adequadamente para as atividades sexuais com Brain, pois este exercia um controle significativo sobre suas vidas e as mulheres temiam ser ostracizadas do movimento.
Testemunhos e relatos de vítimas
Um dos casos que levaram à condenação de Brain referiu-se ao assalto sexual a uma seguidora do NOS, que estava traumatizada após fazer trabalho voluntário com famílias enlutadas logo após o desastre de Hillsborough, em Sheffield, em 1989. Naquela noite, Brain foi até a casa da mulher e se juntou a ela em sua cama, onde ela, em posição fetal, afirmou que ele a acariciou e beijou sexualmente, enquanto ela estava sem poder resistir.
Outro relato de condenação estava relacionado a um grupo de jovens mulheres conhecidas como “Lycra Lovelies”, que eram responsáveis por cuidar de Brain, de sua esposa na época e de seu filho pequeno. Algumas dessas mulheres eram chamadas para “colocar Chris para dormir”, o que frequentemente incluía massagens e contatos sexuais. Durante o julgamento, as mulheres relataram que se sentiam incapazes de recusar os pedidos de Brain, pois o viam como um guru e profeta.
Reações e repercussões
Mark Stibbe, um colaborador na igreja de Sheffield onde o NOS começou, declarou ao tribunal que foi repreendido quando tentou levantar suas preocupações sobre Brain e o NOS frente aos líderes da Igreja, afirmando que teve “meus pulsos eclesiásticos estalados”. Essas declarações reforçam a ideia de que havia uma cultura de silêncio e proteção em torno do líder do movimento.
Por outro lado, a defesa de Brain, conduzida por Iain Simkin KC, negou que o NOS fosse um culto e manteve que as mulheres tinham liberdade para consentir ou retirar o seu consentimento. No entanto, os relatos das vítimas e a gravidade das acusações deixam em evidência a dinâmica de poder que existia dentro do grupo.
O juiz Freya Newbery pediu aos jurados que retornassem ao tribunal na próxima quinta-feira para continuar as deliberações sobre cinco outras acusações, incluindo uma alegação de estupro. A sociedade aguarda com expectativa as próximas etapas deste processo jurídico.
As condenações de Chris Brain despertam um importante debate sobre a segurança e a proteção das vítimas dentro de movimentos religiosos e grupos de influência. Essa situação trágica serve como um lembrete de que a exploração e o abuso podem ocorrer em qualquer ambiente, e que é fundamental proteger aqueles que buscam apoio e orientação em tempos difíceis.