Na manhã desta segunda-feira (18), uma viatura da Polícia Civil se envolveu em um trágico acidente nas proximidades do Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio, interior de São Paulo. O veículo, que transportava dois presos do distrito de Porto Primavera até a Cadeia Pública de Presidente Venceslau, atropelou uma anta (Tapirus terrestris), que não sobreviveu ao impacto.
Detalhes do acidente
O veículo estava em um trecho da Rodovia Arlindo Béttio (SP-613), quando a equipe se deparou com o animal na pista. Felizmente, os policiais e os presos não sofreram ferimentos. A ocorrência foi registrada, e o Instituto de Criminalística foi acionado para investigar as circunstâncias do acidente, que evidencia os perigos que os animais enfrentam nas estradas da região.
Ameaças à anta brasileira
A morte da anta levanta importantes questões sobre a conservação da espécie no Brasil. Um estudo intitulado “The distribution and conservation status of Tapirus terrestris in the South American Atlantic Forest”, publicado na revista “Neotropical Biology and Conservation”, revela que a população de antas na Mata Atlântica, onde ocorre o acidente, está em risco iminente de extinção.
A anta, conhecida como “jardineira das florestas”, desempenha um papel crucial na dispersão de sementes, contribuindo para a biodiversidade do ecossistema. Atualmente, a espécie ocupa apenas 1,78% de seu habitat original no bioma da Mata Atlântica, o que coloca em risco seu futuro. O Parque Estadual do Morro do Diabo abriga uma das últimas populações delas, com estimativas de que cerca de 130 antas possam viver dentro do parque.
Riscos e desafios para a espécie
De acordo com Patrícia Medici, coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), a populações enfrentam ameaças diversas, incluindo caça e atropelamentos. Em sua fala ao g1, Patrícia explicou que a anta ainda é caçada para consumo, embora não seja o alvo principal dos caçadores. No entanto, é o atropelamento em rodovias que causa uma diminuição populacional significativa, especialmente quando envolve fêmeas em idade reprodutiva.
Além disso, a fragmentação do habitat devido à agricultura intensiva, especialmente o cultivo de cana-de-açúcar, tem exposto esses animais a agrotóxicos, comprometendo ainda mais sua sobrevivência.
A importância da conservação
Patrícia ressalta a necessidade de implementar corredores ecológicos para conectar as populações de antas, permitindo que elas se reproduzam e mantenham a variabilidade genética necessária para a sobrevivência a longo prazo. O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) tem promovido esforços para restaurar e conectar fragmentos florestais, aumentando as chances de sobrevivência da espécie.
Medidas de proteção necessárias
Como prevenção, é essencial o fortalecimento do sistema de proteção do Parque Estadual do Morro do Diabo e da Estação Ecológica do Mico-leão-preto. Isso envolve aMonitoramento constante para evitar a entrada de caçadores, medidas de mitigação em rodovias, como sinalizações e campanhas educativas, que são imprescindíveis para preservar as populações locais da anta.
A continuidade desses esforços de conservação e o envolvimento da comunidade local são fundamentais para reverter o quadro de ameaça que a anta enfrenta na Mata Atlântica. Patrícia Medici e outros especialistas enfatizam que, sem ações concretas, o desaparecimento da anta na região pode se tornar uma realidade.
Conclusão
A morte da anta em Teodoro Sampaio não é apenas um incidente isolado; ela representa um alerta sobre as condições em que essas criaturas vivem. Com uma população já ameaçada, é fundamental que a sociedade, órgãos públicos e organizações de conservação trabalhem unidos para garantir a preservação dessa espécie vital para o ecossistema brasileiro.
O futuro da anta depende de nossa capacidade de reagir a esses desafios e de promover um ambiente mais seguro, onde esses animais possam prosperar, mantendo a integridade da biodiversidade da Mata Atlântica.