Brasil, 21 de agosto de 2025
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A queda das motos e scooters em Miami devido à repressão imigratória

A explosão na venda de scooters em Miami foi interrompida pela repressão a imigrantes, gerando medo e incertezas na comunidade.

A recente onda de scooters e mopeds que tomou conta de Miami foi tão efêmera quanto os programas temporários de proteção migratória do presidente Joe Biden. Esses veículos pequenos tornaram-se populares após a chegada de centenas de milhares de imigrantes de países da América Latina, onde, em grandes metrópoles como Caracas, Bogotá e Cidade do México, os mopeds são um meio de transporte comum. Muitos desses indivíduos se estabeleceram no sul da Flórida, onde o transporte público não consegue atender a demanda, encontrando nos scooters uma opção econômica e familiar.

A transformação da mobilidade em Miami

O boom dos mopeds entre 2022 e 2023 mudou a cara da cidade. As scooters conseguem se esquivar entre os carros, facilitando a habilidade de navegar pelas ruas e nas principais vias frequentemente congestionadas. Seus números pareciam aumentar a cada dia, mas, atualmente, é raro avistar uma scooter nas ruas. O fenômeno que tomou conta da cidade começou a esmorecer no início deste ano, após a repressão a imigrantes liderada por Donald Trump, que prometeu deportações em massa e levantou uma meta de 3.000 detenções diárias.

A administração Trump cancelou os vistos de centenas de milhares de pessoas que chegaram por meio do programa de concessão humanitária para cubanos, haitianos, venezuelanos e nicaraguenses, conhecido pelas iniciais CHNV. Como resultado, muitos se vêem em uma situação de limbo da noite para o dia.

“Dirigir uma scooter em Miami é como ter uma tatuagem no rosto. As autoridades dizem: ‘Ei, pare, se você está dirigindo uma scooter, provavelmente não tem documentos’,” diz Yonathan Rodríguez, um venezuelano de 40 anos que vende peças para veículos em lojas locais há 20 anos. “É visível o medo da deportação nas ruas. Há muito menos mopeds do que antes,” relata.

Impacto nas vendas e no comércio local

Rodríguez explica que muitos recém-chegados, que não tinham dinheiro para comprar um carro, aproveitaram a facilidade de adquirir um moped sem a necessidade de um histórico de crédito, podendo pagar em planos de parcelamento. Contudo, agora, usar uma scooter significa se expor ao risco de ser abordado por oficiais de imigração, que têm realizado operações em locais de trabalho, fazendas e rodovias em todo o estado da Flórida.

Queda nas vendas de mopeds

Boris Pedraza, proprietário da loja El Rey de las Motos, afirma que as vendas despencaram. “Muitas pessoas foram deportadas e outras estão se escondendo, pois se forem paradas por qualquer motivo sem documentação, vão para a cadeia,” diz ele. Pedraza relata que, durante um período entre 2022 e o início de 2024, ele vendeu cerca de US$ 5 milhões em veículos, com uma média de mais de 10 mopeds por dia. Atualmente, ele considera-se sortudo se vende uma ou duas motos por semana.

A pressão sobre os negócios está aumentando, e algumas lojas que surgiram com o aumento da demanda tiveram que fechar. “Algumas pessoas abriram pequenas lojas, disseram ‘Isso está na moda. Vamos vender scooters.’ Mas isso acabou,” enfatiza Pedraza.

Devido à queda nas vendas, uma das novas lojas localizadas ao lado do negócio de Pedraza teve que juntar um joalheiro, um pequeno mercado e uma espécie de cafeteria no mesmo espaço. Um funcionário que pediu para não ser identificado mencionou que tiveram que fechar dois locais. “Ninguém realmente sabe até quando isso vai durar,” lamenta Pedraza.

A difícil realidade dos imigrantes e o futuro das scooters

Rodríguez, que vende peças por atacado, afirma que “as deportações em massa que ocorreram nos últimos seis meses afetaram todas as lojas” especializadas em mopeds, obrigando muitas a reestruturar suas operações para permanecerem viáveis. O medo e o risco associado a andar de scooter levaram muitos a abandonarem essa opção de transporte.

Diosday Monzón, um cubano de 49 anos que conduz uma scooter de 150cc, considera o moped uma alternativa econômica ao carro, especialmente após perder seu emprego. “Com cinco dólares eu rodo 93 milhas. Depois de três ou quatro meses em uma scooter, você está economizando dinheiro,” explica ele. Contudo, a frequência de abordagens de autoridades aumentou, criando uma atmosfera de constante alerta e incerteza entre a comunidade imigrante.

Em Miami, onde a presença de scooters faliu abruptamente, a luta diária por mobilidade representa a realidade multifacetada de uma comunidade que sempre buscou alternativas para suas necessidades. O futuro das motos e scooters na cidade permanece incerto, à medida que as mudanças nas políticas imigratórias continuam a influenciar a vida de tantas pessoas.

O que antes era um sinal de liberdade agora constrói-se sob o peso do medo e da repressão, enquanto Miami se esforça para encontrar o equilíbrio entre a tradição e a transformação.

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