O clima tenso entre a oposição e a presidência da Câmara dos Deputados foi intensificado pelas recentes declarações do líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ). Em entrevista ao Metrópoles, ele revelou a frustração em relação à condução de pautas importantes, destacando a falta de diálogo entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e os membros da oposição.
A falta de acordo e a relatoria da CPMI
Durante a entrevista, Sóstenes Cavalcante enfatizou que não houve acordos sobre a escolha do deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) para a relatoria da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ele se mostrou cético quanto à capacidade de Motta de dialogar com a oposição, afirmando: “O presidente não tem obrigação de acordar conosco. Entendo que o Hugo tem dificuldades para fazer gestos para o PL e para a oposição”.
A CPMI gerou controvérsias, especialmente porque Ayres, um nome ligado ao Centrão, não assinou o requerimento para que a comissão fosse instalada. “222 deputados assinaram, ele não. Ou seja: se dependesse dele, a CPMI não existiria”, reclamou Sóstenes, evidenciando a insatisfação da oposição com o cenário atual.
Apoio limitado da presidência
A escolha de um parlamentar do Centrão para a relatoria, segundo analistas políticos, reflete um afastamento de Motta em relação aos bolsonaristas. A oposição, que havia capitaneado a coleta de assinaturas para a criação da CPMI, esperava um nome mais alinhado a sua ideologia, como a Coronel Fernanda (PL-MT). “O presidente da Câmara não entrou em detalhes sobre a escolha, mas há quem acredite que isso é uma resposta à situação recente de conflito entre a oposição e o governo”, apontou um líder partidário.
A dificuldade de Motta em estabelecer uma relação harmoniosa com a oposição é ainda mais complicada pelo recente motim que impediu o presidente de participar das sessões na Câmara. Esse episódio, que durou mais de 30 horas, foi considerado desmoralizante e mexeu com a dinâmica do Congresso. “A relação nunca mais será a mesma após esse fato”, afirmou um interlocutor próximo ao presidente.
Interesses políticos e possíveis consequências
Além das tensões entre as lideranças, a situação inédita que Motta enfrentou chama atenção para as mudanças nas estratégias do Centrão. O apoio à proposta de anistia aos envolvidos na confusão de 8 de janeiro e a diminuição do foro privilegiado têm gerado descontentamento entre os bolsonaristas, que se sentem marginalizados na atual configuração política da Câmara.
De acordo com observadores, a concessão da relatoria da CPMI à oposição poderia ser vista como uma “recompensa” àqueles que participaram do recente motim, o que Motta e seus aliados desejam evitar a todo custo. A necessidade de um presidente e relator que estejam abertos a negociações torna a situação ainda mais delicada.
Futuras direções e desafios
À medida que a CPMI se aproxima de sua instalação, permanece a incerteza sobre como as relações entre o governo e a oposição irão evoluir. O clima de desconfiança pode afetar não apenas a condução da CPMI, mas também outras pautas legislativas importantes que requerem consenso entre as partes.
“A falta de diálogo pode levar a uma paralisia legislativa maior, algo que, no fim das contas, não beneficia nem a oposição nem o governo”, concluiu Sóstenes, refletindo o sentimento de muitos parlamentares em Brasília.
À medida que os desdobramentos da CPMI do INSS se desenrolam, as interações entre os grupos políticos da Câmara continuarão a captar a atenção dos observadores e a influenciar a futura agenda legislativa do país.