Humberto dos Santos Júnior, um autônomo de 70 anos, tem uma história de vida que retrata a luta contra os vícios e a busca por reabilitação. Da Cracolândia de Santos ao altar de Deus, Humberto, recentemente ordenado diácono, reflete sua trajetória de superação e dedicação aos pobres. A sua nova missão, reconhecida pela Igreja Católica, é um testemunho poderoso sobre fé e transformação.
A descoberta do chamado religioso
Tornar-se diácono, para Humberto, não foi uma mera escolha pessoal, mas sim um chamado divino que foi percebido pela Igreja ao longo de sua jornada de recuperação. “A Igreja observa a caminhada da pessoa, identificando um espírito de serviço e, a partir disso, a encaminha para a formação diaconal”, explicou. Este processo levou oito anos de estudos e preparação, após sua recuperação do vício que por 14 anos dominou sua vida.
A sua dedicação aos mais vulneráveis começou após se recuperar, quando passou a atuar em ações sociais voltadas para pessoas em situação de rua e dependência química. A experiência e o testemunho pessoal de Humberto se tornaram um farol de esperança para muitos, refletindo a transformação que teve em sua vida.
Uma infância marcada pela fé e desafios
Humberto cresceu em um ambiente de fé, frequentando a igreja com sua mãe e irmãos na infância. Porém, com o tempo, se afastou da prática religiosa. O álcool entrou em sua vida aos 12 anos, e a dependência por drogas se intensificou após sua experiência no Exército, onde teve seu primeiro contato com a cocaína.
Suas dificuldades aumentaram com a mudança da família para Santos e sua luta pessoal contra as drogas, levando Humberto a momentos de desespero e, eventualmente, a viver nas ruas da Cracolândia, onde enfrentou uma dura batalha pela sobrevivência e pelo controle sobre suas dependências.
A virada na vida de Humberto
O ponto de virada na vida de Humberto ocorreu após uma experiência de profunda introspecção enquanto estava sob o efeito de drogas. Uma voz interior o incentivou a retornar para casa, um momento que ele descreve como extraordinário. Apesar dos desafios de volta, como o pai se mudando para o Rio de Janeiro, Humberto começou a reconstruir sua vida, ainda lidando com os resquícios do vício.
Após ser acolhido por sua mãe, ele passou a enfrentar suas limitações e começou a trabalhar. No entanto, a persistência do vício o levou a uma rotina de roubo para sustentar seu consumo. Foi nesse momento que sua mãe o levou para a Casa do Povo de Deus, onde passou um ano em reabilitação, focando na vida espiritual e na oração.
Retorno à vida e compromisso social
A experiência na Casa do Povo de Deus foi essencial para a transformação de Humberto. “Lá, tudo que a gente fazia era com oração”, lembra ele, destacando o impacto que a espiritualidade teve em sua recuperação. A partir dali, iniciou um novo capítulo, dedicando-se à vida religiosa e ao serviço da comunidade, sempre voltado para os mais necessitados.
Hoje, Humberto se sente chamado a ajudar outros que enfrentam desafios semelhantes, dedicando sua vida à assistência às pessoas vulneráveis. O bispo Dom Tarcísio Scaramussa reconheceu essa inclinação de Humberto e decidiu que sua atuação como diácono será exclusiva para cuidar dos pobres, um mandato que ele considera divino. “Eu não seria completo se a minha ordenação diaconal não fosse para servir ao pobre”, conclui.
A dedicação de Humberto é um exemplo inspirador de como a fé e o apoio comunitário podem transformar vidas. Ele acredita que sua própria história é um testemunho do poder de cura e libertação que pode ser alcançado através da espiritualidade, e sua missão agora é ajudar a curar outros, trazendo esperança e auxílio a quem mais precisa. O amor da sua família, especialmente da mãe, é uma parte importante de sua nova vida, onde ele continua a brilhar como um farol de luz para aqueles que ainda estão perdidos na escuridão.
Humberto irá servir ativamente à sua comunidade, dando suporte a pessoas em situação de rua e mostrando, por meio de seu testemunho, que a recuperação é possível e que ninguém precisa estar sozinho em sua luta.
