Enquanto a manhã ainda mal acorda em algumas regiões dos Estados Unidos, as urnas já estão abertas em 11 estados e na capital, Washington, D.C.. É um dia que carrega um peso único – um daqueles momentos em que o país, com toda sua diversidade e contradições, para para refletir sobre seu futuro. Mas, ao contrário da votação ágil e digitalizada no Brasil, a experiência americana é feita de cédulas, filas e um processo que exige paciência.
Os detalhes de cada cédula e o peso das decisões nas eleições
Imagine um eleitor em Nova York. Ele chega à seção eleitoral e se depara com uma cédula que mais parece um catálogo. Não há apenas duas ou três escolhas rápidas – há uma sequência de perguntas e decisões. Ele precisa selecionar não só quem ocupará a presidência, mas também quem serão os juízes da Suprema Corte do estado. Ele lê cada item, pensa nas questões de políticas públicas e, como tantos americanos, talvez se sinta responsável por votar no manejo de resíduos, nas propostas para combater a desigualdade. Cada marca na cédula é uma expressão de sua visão sobre como deveria ser o país onde vive.
Esse processo leva tempo. Muitos eleitores, cientes da complexidade, já votaram por correio semanas antes, planejando evitar filas e o desgaste da espera. Mas, para aqueles que estão ali, é um ritual que se repete, ciclo após ciclo, onde o gesto de assinalar uma cédula se transforma em um compromisso.
O poder das eleições locais nos Estados Unidos e as decisões que definem a vida cotidiana
Enquanto vota, esse mesmo eleitor sabe que, para além do presidente, ele está influenciando diretamente sua comunidade. Em onze estados, eleitores escolhem governadores, cujas decisões irão determinar o caminho da economia, da educação e de temas urgentes como o aborto. É um direito e um dever: enquanto os temas nacionais e globais muitas vezes dominam as manchetes, é nas urnas locais que estão os pilares do cotidiano americano.
É justamente pela importância das questões locais que muitos americanos já garantiram seu voto, seja pelo correio, seja nas votações antecipadas. Eles querem evitar as longas filas que se estendem até o final da noite e garantir que suas vozes sejam ouvidas sobre temas que, muitas vezes, só eles sabem o quanto são cruciais.
Renovação e tradição no congresso é o contraponto do Poder
Além do voto para o Executivo, essa eleição vê o retorno de uma tradição que remonta às fundações da democracia americana: a renovação do Congresso. A cada dois anos, parte do Senado e toda a Câmara dos Representantes se abrem para a escolha popular. Hoje, 34 senadores e 435 deputados esperam a decisão dos eleitores. Ao contrário do Brasil, onde os mandatos possuem limitações, o sistema americano permite que deputados permaneçam em seus cargos enquanto houver respaldo do eleitorado. Esse equilíbrio entre continuidade e mudança dá ao eleitor o poder de decidir o destino de políticas e leis que afetam todo o país.
Um país dividido entre Harris e Trump
No epicentro de tudo, os nomes de Kamala Harris e Donald Trump dominam o cenário presidencial. É uma disputa acirrada, quase palpável nas ruas, e mesmo entre familiares que compartilham o jantar. Dois polos, duas visões. A campanha se acirra, e os americanos sabem que estão votando não apenas em líderes, mas em destinos possíveis para o futuro.
Assim, nesse longo dia de votação, onde o país parece girar em câmera lenta, cada cédula representa mais do que uma escolha: é a história de um país em transformação, um voto de confiança – ou de desafio – e um chamado à ação para decidir como será o próximo capítulo americano.