Desde a volta de Donald Trump ao cenário político, a comédia noturna americana enfrenta um momento desafiador, ressoando as palavras de um personagem do clássico terror “Scream 2”: na comédia, a “contagem de corpos” aumenta, as “cenas de morte” se tornam mais elaboradas e a premissa de que o “vilão” é realmente derrotado deve ser desconfiada. O que se observa é um cenário de pressão corporativa e mudanças na dinâmica de trabalho que desafiam a liberdade criativa dos humoristas.
A reaparição de Trump: novos desafios para a comédia noturna
Desde a eleição de Trump em 2016, os programas de comédia noturna se apressaram em encontrar humor nas situações políticas. Contudo, sua nova candidatura nas eleições de 2024 trouxe novas preocupações. A pressão aumentou à medida que Trump fez ameaças e causou polêmicas, levando corporações a agirem para evitar processos judiciais que poderiam prejudicar suas operações. Com isso, a ‘contagem de corpos’ na comédia noturna parece maior do que nunca, refletindo uma indesejável “censura” e um ambiente criativo em roda viva.
Dentre os desdobramentos, Stephen Colbert foi demitido de “The Late Show” logo após criticar fortemente a Paramount por ter quitado um processo de 16 milhões de dólares com Trump. O impacto dessa decisão ressoou entre os comediantes, que se veem em um cenário onde as piadas estão alinhadas com os riscos de perderem seus programas. Quando o comediante Jon Stewart comentou sobre o fim do programa de Colbert, ele expressou uma realidade amarga: “O problema não é apenas financeiro, mas um reflexo do medo que permeia todas as instituições americanas”.
Os impactos das novas regras no humor político
Com a pressão crescente, a natureza do humor nos programas noturnos começou a mudar. Os comediantes agora precisam encontrar formas de fazer piadas que ressoem com o público ao mesmo tempo em que cuidam para não ofender poderosos que poderiam retaliar. As tentativas de abordar as questões sem parecer extremamente críticas resultaram em um humor mais apolítico que, segundo críticos, é menos eficaz.
Ainda assim, Colbert, Jimmy Kimmel e outros como Seth Meyers e John Oliver não deixaram de lado a crítica e continuaram a opor-se ao que consideram injustiça. A tradicional comédia noturna dos EUA, que outrora alavancava sua popularidade ao criticar e zombar de figuras políticas, agora navega em águas perigosas, onde os limites éticos e morais são constantemente testados.
Em busca de novos rumos: A reestruturação na comédia noturna
Os diretores dos programas estão revendo suas estratégias para se manter relevantes – e rentáveis. O número de indicações ao Emmy para essas produções diminuiu, e os espectadores estão migrando para plataformas de vídeo sob demanda, onde encontraram novas fontes de entretenimento. O formato tradicional enfrenta sérias dificuldades devido a mudanças nos hábitos de consumo, enquanto as emissoras lutam contra uma queda nas receitas de publicidade.
Com a audiência de “The Late Show” diminuindo, passando de 3,81 milhões para 2,4 milhões em apenas seis anos, e a recente demissão de Colbert gerando tensão entre os apresentadores, a situação se torna ainda mais crítica. As estatísticas de audiência, que costumavam ser robustas, revelam a necessidade de mudanças rápidas e eficazes para engajar e entreter o público atual.
Resistência ou conformismo?
Enquanto a comédia noturna busca um novo equilíbrio, muitos permanecem firmes em suas crenças sobre a importância de se pronunciar e continuar contando histórias, mesmo quando a luta é mais difícil do que nunca. O apelo da carreira para o riso é que ele é mais relevante do que nunca, mesmo em tempos de incerteza. A resistência se torna necessária não apenas para sobreviver, mas para prosperar diante de desafios consideráveis.
Com a situação se intensificando e a luta pela liberdade criativa se tornando um tema recorrente, a expectativa é de que a comédia noturna se reinvente uma vez mais para tocar nas realidades de um mundo em constante transformação e frequente desconforto político.
Como resultado, a comédia noturna nos EUA parece posicionar-se frente a um botão de reset: mesmo que obstáculos se apresentem, aquele que conseguir fazer rir em tempos difíceis possivelmente irá conquistar um lugar de destaque no futuro do entretenimento.