Nos últimos anos, é inegável a crescente simpatia que muitos brasileiros têm por clubes de futebol europeus. Esta tendência faz parte de um fenômeno global, onde o encanto pelos gigantes do futebol do Velho Continente chama a atenção dos amantes do futebol em todo o mundo. A migração dos nossos melhores jogadores é apenas um dos fatores que alimentam esse fascínio, que, embora possa parecer superficial, reflete uma série de mudanças profundas no cenário esportivo tanto no Brasil quanto na Europa.
A migração de talentos e a desvalorização do futebol nacional
O esvaziamento das ligas de futebol brasileiras e a queda na qualidade dos torneios de clubes na América do Sul têm afastado os jovens torcedores brasileiros, que se sentem atraídos pelos campeonatos europeus, repletos de estrelas. Há mais de uma década, os times brasileiros lutam para conseguir conquistar a honra de vencer suas contrapartes europeias, especialmente no Mundial de Clubes, uma competição que sempre foi a grande obsessão dos brasileiros.
As memórias de vitórias históricas, como aquelas do São Paulo sob a batuta de Telê Santana ou do Flamengo com Zico, ainda ecoam na lembrança das torcidas. Contudo, essa época agora parece distante, especialmente após a recente participação de Botafogo, Flamengo e Fluminense em torneios nos Estados Unidos, evidenciando que a diferença entre o futebol brasileiro e o europeu já não é tão abismal quanto se pensava.
A influência da globalização e o impacto das redes sociais
Nos últimos anos, os grandes clubes europeus se tornaram não apenas times de futebol, mas verdadeiros fenômenos de entretenimento global. A facilidade com que se pode acompanhar partidas ao vivo, as redes sociais que disseminam gols e lances espetaculares, e a diversidade multicultural dos elencos contribuem para reforçar a imagem de espetáculo dessas equipes.
Esse ambiente não é apenas benéfico para o clube, mas também representa um negócio bilionário. A LaLiga, por exemplo, tem tentado há anos levar um jogo oficial para os Estados Unidos, uma meta que pode ser alcançada neste ano. Competências como as Supercopas da Espanha e da Itália já são realizadas em locais como a Arábia Saudita, enquanto o último Intercontinental ocorreu no Catar. Nos estádios americanos, a presença maciça de torcedores do Real Madrid destaca a paixão global por essas equipes, superando até mesmo o apego mais tradicional às raízes locais.
Números que refletem a tendência
Uma pesquisa realizada pelo O GLOBO/Ipsos-Ipec indica que cerca de 22% dos entrevistados afirmam torcer ou ter simpatia por um time de fora do Brasil, com destaque para o Real Madrid e Barcelona, que juntos acumulam 15% da preferência. Em uma pesquisa internacional feita por uma consultoria britânica, 86,7% dos entrevistados reportaram simpatia por clubes internacionais, sendo que 33% torcem por um time que não é de seu país. Isso demonstra claramente que o apelo dos grandes clubes europeus é mais do que meramente esportivo.
A reação dos clubes brasileiros
Apesar desse fascínio por times europeus, muitos especialistas acreditam que a relação de simpatia pode evoluir para identificação. Nos últimos anos, a profissionalização e o fortalecimento financeiro dos clubes brasileiros renovaram as esperanças dos torcedores. Com elencos mais competitivos, a nova Copa do Mundo de Clubes promete ser uma grande oportunidade para os clubes nacionais se destacarem. O Botafogo, por exemplo, foi indicado ao prêmio de melhor clube na Bola de Ouro deste ano, uma clara demonstração de que o futebol brasileiro está valorizando seu produto.
Se, por um lado, a simpatia pelos clubes europeus parece um caminho sem volta, há motivos para otimismo. A evolução das ligas e a qualificação dos clubes brasileiros pode, ao menos por enquanto, conter a exportação da paixão em massa pelos gigantes europeus, e as novas gerações podem encontrar novamente motivos para olhar para dentro e se orgulhar de seus clubes locais.
Concluindo, enquanto o encanto pelos gigantes europeus continua a se expandir entre os jovens torcedores brasileiros, o fortalecimento do futebol nacional traz esperança para um futuro em que o amor pelo esporte possa ser vivido tanto em casa quanto além-mar.
