Segundo o Indicador de Comércio Exterior (Icomex) de agosto, divulgado nesta quarta-feira pelo Ibre da Fundação Getulio Vargas (FGV), dez dos 30 principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA concentram 80% ou mais de suas vendas externas nesse mercado. Esta dependência elevada preocupa especialistas diante das recentes tensões comerciais e a imposição de tarifas.
Produtos mais dependentes do mercado americano na pauta brasileira
Entre os itens com maior concentração de exportação para os EUA estão ferro fundido, semimanufaturados de aço, madeira de coníferas, portas, soleiras, pedras de cantaria e aviões, que mantêm uma dependência quase total. De acordo com o levantamento, a madeira de coníferas lidera o ranking, com 98% das suas vendas externas dirigidas ao mercado americano.
Em valores, o Brasil vendeu US$ 189 milhões de madeira de coníferas aos EUA até julho, demonstrando a forte relação comercial nesse setor. Como destaca o estudo, a dependência é particularmente alta na região Sul, onde polos industriais de móveis e madeira, como a empresa catarinense Millpar, já adotaram medidas de ajuste, como férias coletivas, diante do tarifário elevado.
Impactos do tarifão de Trump e relações comerciais
O impacto das sobretaxas impostas pelo governo de Donald Trump, que afetam produtos altamente dependentes dos EUA, é considerado um risco de desestabilização para determinadas cadeias produtivas brasileiras. Mesmo que o efeito macroeconômico seja limitado, setores específicos podem sofrer prejuízos significativos.
Segundo Lias Valls, professora da Uerj e coordenadora do Icomex no FGV Ibre, a substituição dessas vendas por outros mercados será um processo longo, principalmente para produtos industriais e siderúrgicos, cuja cadeia de produção está altamente integrada às multinacionais.
Produtos com alta dependência, mas fora da lista de exceções
Apesar da forte dependência, três dos produtos mais afetados pelo tarifaço do presidente Trump estão fora das exceções do decreto de sobretaxas, incluindo aviões de 2 a 15 toneladas — cujo 91% das vendas externas destinam-se ao mercado americano. A Embraer, maior fabricante nacional de jatos regionais, lidera essas operações.
Outros itens, como sebo de bovinos e produtos semimanufaturados de aço, também exibiram uma dependência quase total dos EUA, com 97,3% e 96,1%, respectivamente. Ao mesmo tempo, 18 dos 30 bens mais vendidos aos EUA enfrentam tarifas e estão sujeitos à sobretaxa, impactando negócios e empregos.
Perspectivas para a diversificação e desafios do mercado
Especialistas ressaltam que a dependência de um único mercado, como o americano, dificulta a adaptação das empresas às mudanças comerciais internacionais. De acordo com Valls, a maioria dessas cadeias de produção está vinculada a multinacionais, o que torna mais complexa uma realocação rápida para outros destinos.
Além do desafio logístico e comercial, há também a questão política. Nas palavras de integrantes do governo Lula, embora a taxa de importação brasileira seja comparável à de Argentina e Paraguai, Trump não reage da mesma forma com esses países, o que evidencia dilemas na relação bilateral. Mais detalhes.
Impactos econômicos e possíveis estratégias
O cenário de dependência elevada reforça a urgência de estratégias brasileiras para diversificar mercados e reduzir vulnerabilidades diante de tarifas. Entretanto, a forte ligação de várias indústrias às cadeias globais de produção significa que a mudança demandará tempo e esforço coordenado.
A análise do estudo indica que, embora o impacto macroeconômico seja moderado, as atividades mais dependentes dos EUA podem sofrer efeitos mais visíveis, sobretudo em segmentos específicos, como o siderúrgico e de produtos manufaturados.
Para acompanhar as novidades, leia também: Tarifas elevadas afetam polos industriais na Região Sul e Um terço dos produtos exportados para os EUA dependem de 80% ou mais de clientes americanos.