Brasil, 14 de agosto de 2025
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Interesse dos EUA por Itaipu e a reconfiguração da soberania energética

Norte global mira na usina de Itaipu para ampliar controle digital e apropriação de recursos do Sul Global

A Usina Hidrelétrica de Itaipu, entre Brasil e Paraguai, inaugurada em 1984, representa símbolo de cooperação sul-americana e energia limpa. Porém, após o vencimento do tratado bilateral de venda de excedentes em 2023, atores externos, especialmente os Estados Unidos, demonstram interesse em reconfigurar o uso desse recurso estratégico, apontando para uma nova fase de colonização tecnológica.

Reconfiguração do uso de Itaipu e interesses externos

Com o término do tratado que restringia a venda de energia produzida por Itaipu apenas ao Brasil, há uma brecha aproveitada por interesses estrangeiros. Numa declaração recente no Senado americano, o secretário de Estado Marco Rubio indicou que o Paraguai poderia ser uma escolha inteligente para instalação de data centers, dada a sua abundância energética, que não pode ser simplesmente armazenada ou exportada. Segundo Rubio, a energia de Itaipu poderia sustentar infraestruturas digitais avançadas, como a base de operações de Inteligência Artificial norte-americana, criando uma dependência tecnológica na região.

Agenda do Meta-Trumpismo na América Latina

Rubio reforçou a estratégia do Meta-Trumpismo de inserir o Sul Global na cadeia produtiva como subordinado ao Norte, impondo sua autoridade sobre os países vizinhos. A expansão de data centers, que demandam uma enorme quantidade de energia e recursos hídricos para resfriamento, é vista como uma forma de dominar a infraestrutura digital e explorar os recursos locais sem gerar benefícios reais às populações.

Impacto ambiental e dependência tecnológica

Nos Estados Unidos, o consumo massivo de água por data centers já provoca riscos de escassez hídrica, como em The Dalles, Oregon, onde o Google utilizou uma quarta do abastecimento anual da cidade. No Brasil, empresas globais da tecnologia também enfrentam dificuldades com o fornecimento de energia e água para ampliar suas operações de inteligência artificial, reforçando a vulnerabilidade da infraestrutura local.

O excedente limpo de Itaipu, em vez de impulsionar projetos de desenvolvimento nacional, passa a ser explorado para sustentar infraestruturas digitais controladas por corporações estrangeiras. Como resultado, o Brasil permanece refém de uma lógica de subordinação, onde sua energia, território e dados produzem lucros e controle fora de seu alcance, reforçando um ciclo de dependência e precarização.

Riscos de desmonte institucional e perda de soberania

Medidas como o Projeto de Lei 4557/2023, que propõe transferir a supervisão do Comitê Gestor da Internet (CGI.br) para a Anatel, representam tentativas de desmonte da governança digital brasileira. Tal movimento pode consolidar a submissão do país ao controle de interesses transnacionais, enfraquecendo a autonomia e perpetuando uma lógica de colonização digital no Sul Global.

Se avançar, essa estratégia marcará uma ruptura profunda na história de Itaipu e na integração regional, transformando-a de símbolo de solidariedade energética em ativo de dominação tecnológica de potências externas. Defender a soberania energética e digital do Brasil e do Paraguai torna-se, assim, fundamental frente a esse cenário de reconfiguração geopolítica.

Perspectivas e desafios

Para resistir a essa reconfiguração, é imprescindível fortalecer a autonomia tecnológica e a soberania sobre os recursos estratégicos. Além disso, a transparência na gestão de infraestrutura digital e o fortalecimento de uma governança própria na internet são passos essenciais para evitar que interesses estrangeiros ditem o destino da região.

Como destacou Isabela Rocha, doutoranda na UNB, e Camila Modanez, pós-graduanda na Unicamp, a defesa da Itaipu não é apenas uma questão de energia, mas do direito do Sul Global de decidir seu futuro soberano diante de uma nova ordem digital que busca seu afastamento político e econômico.

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