Em um novo e significativo movimento geopolítico, a China anunciou em outubro de 2024 uma série de restrições sobre a exportação de terras raras, endurecendo a regulação sobre elementos essenciais para a produção de semicondutores e dispositivos eletrônicos. Esses materiais, como o gálio e o germânio, são cruciais na fabricação de chips, e a partir de agora, exportadores chineses precisarão detalhar o uso específico e o destino das remessas. A decisão é vista como uma estratégia para ampliar o controle sobre recursos críticos e assegurar que esses materiais não sejam utilizados contra os interesses chineses.
A medida está alinhada com a postura de contra-ataque da China em meio às crescentes restrições tecnológicas impostas por países ocidentais. Ao estabelecer maior rastreamento e estatização de suas reservas de terras raras, a China solidifica seu domínio na cadeia de suprimentos global e impõe novas condições ao mercado de tecnologia. Especialistas interpretam a medida como um sinal claro de que o país busca reafirmar sua posição como o maior produtor mundial desses materiais e reagir às políticas de restrição dos Estados Unidos e da União Europeia, que tentam diminuir a dependência das terras raras chinesas. Com a China respondendo por cerca de 70% da produção global de terras raras, o impacto para empresas estrangeiras é potencialmente grave, aumentando a pressão para que acelerem o desenvolvimento de alternativas.
Impactos na produção e aumento de preços
A nova política chinesa de exportação tem implicações diretas nos custos e na produção global de eletrônicos. Ao controlar a saída de terras raras, a China não apenas cria uma escassez desses materiais para fabricantes no exterior, mas também eleva o preço dos semicondutores e dispositivos que dependem deles. A crise de chips, que afetou a produção de eletrônicos e automóveis desde 2021, deve se agravar com o novo quadro, obrigando indústrias ocidentais a repensarem a estratégia de abastecimento.
Empresas ocidentais, como a norte-americana MP Materials, registraram um aumento nas ações logo após o anúncio da China, refletindo a busca por alternativas em países com reservas significativas, como Vietnã e Brasil. No entanto, essa mudança é complexa e exige tempo e grandes investimentos, o que implica custos ainda mais elevados para o setor de tecnologia. O mercado de semicondutores, que já enfrenta um histórico recente de quebras na cadeia de suprimentos, pode ver uma nova onda de aumento nos preços e atrasos na produção, afetando diretamente o consumidor final.
Brasil como alternativa e o potencial do Piauí
Em meio a essa reconfiguração global, o Brasil emerge como uma opção estratégica para a extração de terras raras, com uma reserva estimada entre 21 e 22 milhões de toneladas – a segunda maior do mundo, atrás apenas da China. Concentradas em áreas como Minas Gerais, Goiás e a região amazônica, essas reservas representam um potencial para que o país se torne um fornecedor importante de elementos críticos para a tecnologia. Empresas brasileiras já estão avaliando o desenvolvimento de uma cadeia produtiva de terras raras, e o governo estuda incentivos para impulsionar essa exploração.
O Piauí, embora não esteja entre os estados com maiores reservas de terras raras, possui potencial geológico para mineração de outros recursos, como ferro e níquel. O estado conta com mais de 3,5 mil títulos de pesquisa mineral em andamento, e novas descobertas podem ampliar o portfólio de minérios explorados. Diante da alta demanda global e da busca por diversificação de fornecedores, o Piauí, ao lado de outras regiões, pode se beneficiar de investimentos futuros em exploração mineral, incluindo terras raras.
No entanto, o desenvolvimento dessa cadeia produtiva no Brasil enfrenta desafios de infraestrutura e tecnologia, sendo necessário investir em centros de processamento e beneficiamento de minérios. A região do Piauí, especificamente, teria de superar a falta de uma infraestrutura robusta para mineração, caso deseje atrair projetos de extração de terras raras no futuro.
A decisão da China de controlar as exportações de terras raras para a produção de semicondutores transforma a cadeia de suprimentos global, afetando desde o preço até a capacidade de produção no Ocidente. Para o Brasil, que possui a segunda maior reserva mundial desses elementos, o momento oferece uma oportunidade de se posicionar como um fornecedor alternativo, especialmente em meio às novas restrições do governo chinês.
O Piauí, que ainda não se destaca na mineração de terras raras, pode entrar nesse cenário caso haja investimentos específicos e novos estudos de potencial mineral. O impacto das novas políticas chinesas reforça a importância de se buscar autossuficiência em recursos estratégicos e expande o debate sobre o papel do Brasil, e de regiões promissoras como o Piauí, na nova geopolítica das terras raras.