A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro apresentou nesta quarta-feira as alegações finais em um processo penal no Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga uma suposta tentativa de golpe para mantê-lo no poder. O caso remete aos acontecimentos que cercaram sua saída do cargo e suas declarações contraditórias ao longo do processo. Em interrogatório realizado no início de junho, Bolsonaro foi enfático ao afirmar que não existia um “clima” ou uma “oportunidade” para qualquer ato golpista.
Discussões sobre alternativas
No depoimento espontâneo, Jair Bolsonaro revelou ter buscado comandantes das Forças Armadas para discutir alternativas após ser derrotado nas eleições de 2022 por Luiz Inácio Lula da Silva. Ele mencionou a possibilidade de considerar instrumentos como o Estado de Sítio e a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), destacando que, apesar das conversas, as iniciativas não avançaram. “Golpe não são meia dúzia de pessoas”, afirmou, referindo-se à ideia de que o movimento golpista se limitava a um pequeno grupo.
A minuta golpista e as reuniões
Durante seu depoimento, o ex-presidente também foi questionado sobre uma minuta golpista citada na delação de Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens. Bolsonaro negou ter tido acesso a essa minuta e destacou que as discussões sobre medidas extremas foram tratadas de maneira informal. “Discussão sobre esse assunto já começou sem força, de modo que nada foi à frente”, disse.
Foi destacado que em uma reunião com os comandantes das Forças Armadas, um documento sobre a situação do país foi exibido, no qual foram discutidas medidas extraordinárias. “Foi passado na tela os considerandos de forma bastante rápida. Não havia da nossa parte uma gana”, continuou Bolsonaro, sugerindo que a abordagem era apenas exploratória, e não uma intenção firme de golpe.
Negação de participação em atos de 8 de janeiro
O ex-presidente também enfatizou que não tinha nenhuma ligação com os acampamentos que se formaram em frente aos quartéis exigindo uma intervenção militar, classificando parte dos manifestantes como “malucos” que defendiam o Ato Institucional nº 5. Ele condenou as manifestações e colocou em questão a falta de investigação da Polícia Federal sobre quem realmente convocou os atos que culminaram nas invasões de 8 de janeiro em Brasília.
“Não tem nada meu ali estimulando aquela baderna que nós repudiamos”, afirmou. Ele também criticou a falta de ações da Polícia Federal em relação aos convocadores dos atos, sugerindo que eram pessoas de um “pessoal conservador diferente do nosso”.
Implicações do depoimento
O testemunho de Jair Bolsonaro destaca a complexidade do contexto político em que se desenrolaram os eventos de 2022. Sua defesa procura reforçar a ideia de que as ações consideradas golpistas não foram apoiadas efetivamente por ele ou seus aliados, mas sim tomadas por terceiros com um interesse próprio. Assim, pesquisa-se a linha entre a pressão política natural e a legitimação de ações mais extremas e ilegais.
Esse cenário traz à tona um debate mais amplo sobre a polarização política no Brasil, as responsabilidades individuais em um governo democrático e o papel das forças armadas em momentos de crise. O próximo passo na investigação será a análise das alegações finais e a decisão do STF sobre como proceder em relação a Bolsonaro e os indivíduos envolvidos.
Conforme o processo avança, as reações políticas e públicas continuarão a moldar a narrativa sobre o que realmente ocorreu após as eleições presidenciais e quais lições podem ser extraídas para o futuro político do Brasil.