Brasil, 14 de agosto de 2025
BroadCast DO POVO. Serviço de notícias para veículos de comunicação com disponibilzação de conteúdo.
Publicidade
Publicidade

Operação revela esquema bilionário de propinas na Secretaria da Fazenda de SP

Investigações apontam pagamento de mais de R$ 1 bilhão em propinas por empresas como Ultrafarma e Fast Shop

A investigação do Ministério Público de São Paulo revelou um esquema fraudulento envolvendo favorecimento de empresas varejistas, incluindo Ultrafarma e Fast Shop, por meio de propinas pagas a fiscais da Secretaria da Fazenda estadual. A operação, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão aos Delitos Econômicos (Gedec), resultou na prisão de dois auditores fiscais e na apreensão de milhões de reais em dinheiro, joias e criptomoedas.

Prisões e esquema de propina de mais de R$ 1 bilhão

Foram presos Artur Gomes da Silva Neto, supervisor da Diretoria de Fiscalização da Sefaz-SP, e Marcelo de Almeida Gouveia, também responsável na pasta. Segundo o MP, Silva Neto era responsável por manipular processos de benefícios fiscais, acelerando a liberação de créditos tributários fraudulentos em favor de gigantes do varejo. Os auditores recebiam pagamentos mensais, via uma empresa em nome da mãe de Silva Neto, a Smart Tax, sediada na residência do próprio na cidade de Ribeirão Pires.

O Ministério Público estima que Silva Neto já recebeu mais de R$ 1 bilhão em propinas, mantendo uma relação estreita com empresas como Ultrafarma e Fast Shop. Os documentos apreendidos demonstraram uma atuação articulada, na qual Silva Neto orientava e acelerava procedimentos favorecendo tais empresas na obtenção de créditos de ICMS além do previsto na legislação.

Funcionamento do esquema e vantagens indevidas

De acordo com o MPSP, o fiscal facilitava a obtenção de créditos fiscais por meio de ações ilícitas, ajudando as empresas a furar filas de ressarcimento de ICMS, acelerar processos e até mesmo aumentar artificialmente os valores a serem recebidos. Ele também utilizava a identidade eletrônica da Ultrafarma para registrar ações na Secretaria de Fazenda como se fosse a própria empresa, além de aprovar pedidos prioritários.

Momento de maior destaque na investigação ocorreu após a análise de e-mails de Silva Neto, nos quais foram encontrados registros de intensa troca de mensagens com a Fast Shop, incluindo orientações para obter benefícios fiscais ilegais, além de evidências de lavagem de dinheiro envolvendo joias, criptomoedas e altos valores em dinheiro apreendidos pelos policiais —Imagem aqui mostra dinheiro apreendido na operação, realizada em Alphaville—.

Recorrente influência de propinas na tributação

A análise fiscal apontou que Silva Neto atuava em conluio com executivos da Fast Shop, providenciando suporte técnico para acelerar processos de ressarcimento de créditos de ICMS, de modo a obter vantagens ilícitas. A prática, que vem ocorrendo desde maio de 2021, é considerada uma das maiores fraudes fiscais já descobertas na Secretaria da Fazenda paulista, com prejuízos estimados em bilhões de reais.

Segundo o promotor de Justiça João Ricupero, o esquema pode ter impactado uma estimativa entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões de créditos acumulados junto à Fazenda de São Paulo, valor considerado subestimado diante do levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado (Fiesp), que aponta uma soma de quase R$ 40 bilhões em créditos de ICMS não utilizados por diversas empresas.

Pistas de viagens a paraísos fiscais e lavagem de dinheiro

Investigações revelaram que Silva Neto realizou várias viagens ao exterior, incluindo países considerados paraísos fiscais como Suíça e Emirados Árabes Unidos, além de visitas ao Uruguai, que oferece leis fiscais vantajosas. Tais deslocamentos reforçam suspeitas de movimentações ilícitas nas contas do auditor e de suas relações com os demais envolvidos na operação.

Outro ponto importante foi a descoberta de registros patrimoniais bastante elevados da mãe de Silva Neto, relacionadas às movimentações milionárias realizadas através da empresa Smart Tax, sobretudo a partir de 2022, quando os repasses da Fast Shop ultrapassaram R$ 60 milhões em valores brutos.

Outras empresas e possíveis beneficiadas

O MP apura se outras companhias também participaram do esquema, como Kalunga, OXXO e grupos de combustíveis. Em casos específicos, a Secretaria da Fazenda já identificou recusas de envio digital de documentos por parte da Kalunga, enquanto e-mails trocados entre Silva Neto e a Smart Tax indicam ligação com o serviço de consultoria tributária prestado à OXXO.

Representantes das empresas mantêm silêncio oficial. A OXXO afirmou que não recebeu qualquer comunicação formal sobre a investigação, enquanto a Kalunga informou estar à disposição para colaborar se for necessário. O Grupo Nós, proprietário da OXXO, informou que ainda não foi notificado.

Consequências e próximas etapas

Além das prisões, a operação resultou na apreensão de dinheiro, criptomoedas, joias e documentos em várias localidades, incluindo Alphaville e São Bernardo do Campo. As autoridades continuam investigando se outros nomes aparecem envolvidos no esquema e se há novas vítimas entre empresas menores.

A Sefaz-SP anunciou que instaurou procedimento administrativo para apurar condutas internas e reforçou seu compromisso com a ética e a justiça fiscal. A partir das provas recolhidas, os investigados podem responder por crimes de corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro, com processos judiciais em andamento.

Veja o vídeo: Sidney Oliveira, da Ultrafarma, confessou fraude fiscal e aceitou pagar R$ 32 milhões

Mais detalhes sobre a operação e o impacto na arrecadação podem ser acessados no link da reportagem do GLOBO.

PUBLICIDADE

Institucional

Anunciantes